Yahoo Notícias, Matheus Pichonelli
sáb., 10 de setembro de 2022
O candidato do PDT
à Presidência, Ciro Gomes. Foto: Adriano Machado/Reuters
Se comparada ao levantamento da
semana passada, feita antes das manifestações de 7 de Setembro, a pesquisa
Datafolha divulgada na sexta-feira (9/9), mostra que Jair Bolsonaro (PL) segue com dificuldade de conquistar
votos para além dos eleitores mais fieis, uma base composta por
cerca de 30% da população e que apresentou em peso as caras, e bandeiras,
durante os comícios do bicentenário.
O presidente não conseguiu decolar
após uma semana de ampla exposição e boas notícias para a economia. Oscilou dentro
da margem de erro, de dois pontos percentuais, e tem agora 34% das intenções de
voto, contra 32% da semana passada. Nada que ameace, por ora, o favoritismo de
seu principal adversário, o ex-presidente Lula (PT), que manteve os 45%, apesar
da escalada dos ataques.
A novidade é que esses ataques surgem
agora, e de forma cada vez mais ostensiva, em duas frentes.
Bolsonaro tem apostado alto no
antipetismo para repetir o fenômeno que o levou à vitória em 2018. Em atos e
pronunciamentos, já chamou Lula de todos os nomes.
Em outra frente, a pesquisa parece
dar razão à campanha petista ao acusar Ciro Gomes (PDT), ex-ministro de Lula,
de fazer o jogo do atual presidente. De uma semana para cá, Ciro oscilou dois
pontos para baixo e Bolsonaro, dois para cima.
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O movimento acontece no momento em
que Ciro tem elevado o tom contra o ex-presidente. Nos últimos dias, ele disse
que o petista tinha filho bandido e colocou em dúvida a saúde física do
ex-aliado.
Em uma entrevista à Jovem Pan, disse
compartilhar da preocupação do apresentador, Emílio Surita, de que o Brasil
virasse um país socialista sob Lula –uma conversa mole que até outro dia só
gente da base bolsonarista tinha coragem de repetir.
Desde o começo do mês, cresce o
número de eleitores de Ciro que citam Bolsonaro como segunda opção. Eram 24% há
dez dias e agora são 30%. Lula, prioridade dos ataques do pedetista, é a
segunda opção para 33% desses eleitores.
A tendência mostra que Lula já não
tem ampla vantagem nessa fatia do eleitorado em caso de segundo turno – mas
eles serão determinantes para que a eleição não seja definida já em 2 de
outubro.
Lula sabe disso e já não deixa Ciro
falando sozinho. Seus aliados demonstram cada vez mais incômodo com o
ex-aliado, acusado por eles de rasgar a própria biografia para servir de linha
auxiliar de um candidato extremista.
A tendência apontada pela pesquisa
Datafolha lhes dá razão.
A estratégia do pedetista não tem
sido boa nem para ele nem para o ex-presidente. Ele não ganhou um voto com o
discurso; pelo contrário.
Já há quem aposte que Ciro corre o
risco de terminar a corrida atrás de Simone Tebet (MDB), que estacionou nos 5%
das preferências. Ambos estão tecnicamente empatados.
Lula segue a um passo de ser eleito
em primeiro turno. Tem 48% dos votos válidos (excluindo brancos e nulos), mas a
tendência é de queda. Ele tinha 54% em maio.
Visto em perspectiva, Bolsonaro, de
oscilação em oscilação, cresceu seis pontos percentuais desde então, e diminuiu
a distância nos votos válidos para Lula de 24 para 12 pontos.
Como diria um sagaz observador de
pesquisas eleitorais, o que importa é saber se as linhas vão se cruzar antes ou
depois das eleições.
Lula segue favorito contra Bolsonaro em
um eventual segundo turno. Venceria hoje, segundo o Datafolha, por 53% a 39%.
Eram 55% e 32% em maio.
Contra Bolsonaro pesa o fato de ser
ainda o candidato mais mal avaliado do certame, com 51% das menções. Lula tem
38%.
Dos entrevistados, 50% dizem que
nunca confiam nas palavras do presidente e 42% consideram seu governo ruim ou
péssimo. Um número alto para quem quer concorrer à reeleição e já abriu a caixa
de ferramentas, como o Auxílio Brasil, para turbinar suas chances. Isso de nada
adianta enquanto a rejeição do candidato for ainda maior que a de seu governo.
O jogo está em aberto. E hoje Bolsonaro tem mais a agradecer do que a reclamar da estratégia de Ciro Gomes, que garante mais algumas semanas de campanha enquanto draga parte de apoio que, ao menos em tese, seguiria ao ex-aliado quando não estiver mais em campo.
EM TEMPO: É público e notório que o candidato Ciro Gomes ao atacar o ex-presidente Lula, funciona como mola auxiliar do candidato Bozo.
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