Letícia Fonseca-Sourander - correspondente da RFI em Bruxelas
© AP - Eraldo PeresParlamento Europeu aprova resolução contra governo
Bolsonaro e exige investigação dos assassinatos de Dom e Bruno
O Parlamento Europeu aprovou, nesta quinta-feira
(7), uma resolução condenando a situação precária dos povos indígenas, dos
defensores dos direitos humanos e ativistas ambientais no Brasil. A resolução
foi aprovada em sessão plenária em Estrasburgo por 362 votos a favor, 16 contra
e 200 abstenções. Com isso, o executivo europeu exige uma investigação “imediata,
exaustiva, imparcial e independente” sobre as mortes do jornalista britânico
Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, no último dia 5 de junho,
durante uma viagem pelo Vale do Javari, segundo maior
território indígena do Brasil, no extremo-oeste do Amazonas.
Bruxelas pede uma melhor proteção dos índios e dos
ativistas que lutam pela defesa dos direitos humanos e ambientais no
país. A deputada do Partido Verde e vice-presidente da delegação do
Parlamento Europeu para o Brasil, Anna Cavazzini, afirmou que “os assassinatos
de Dom Phillips e Bruno Pereira são horríveis e infelizmente não são um caso
isolado. É um forte sinal de que o Parlamento Europeu condena os assassinatos
cada vez mais frequentes de indígenas e defensores do meio ambiente no Brasil e
identifica, evidentemente, a responsabilidade do governo
Bolsonaro na crescente violência contra os povos indígenas, bem
como nas crescentes taxas de desmatamento associadas a isso.”
O desaparecimento e morte de Dom Phillips e Bruno Pereira foi amplamente repercutido na mídia europeia. As declarações das ONGs Repórteres Sem Fronteiras, Anistia Internacional, Survival International, Greenpeace, Human Rights Watch, Fundo Mundial para a Natureza e União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) tiveram um grande impacto nos eurodeputados, que manifestaram, ainda, profunda preocupação com outras questões.
Projetos de lei em debate no Congresso brasileiro preocupam UE
Os parlamentares europeus estão preocupados com os
potenciais efeitos do projeto de lei PL 191/2020, conhecido como “lei da
destruição”, e do projeto de lei PL 490/2007 sobre a demarcação das terras
indígenas. O Parlamento Europeu ainda exprimiu preocupação com os projetos de
lei atualmente em debate no Congresso brasileiro, que podem conduzir ao aumento
da deflorestação e à destruição dos meios de subsistência dos povos indígenas.
Em julho de 2018, os eurodeputados votaram uma resolução sobre as violações dos
direitos indígenas no Brasil, incluindo a apropriação ilegal de suas terras.
“O aumento da violência desde o início do mandato
de Bolsonaro não é uma coincidência”, declarou Anna Cavazzini, “O Parlamento
Europeu condena que ele tenha cortado o financiamento de agências importantes,
continuado a enfraquecer a legislação ambiental e tenha atacado verbalmente
várias lideranças indígenas e ativistas ambientais”, conclui. Na resolução
adotada nesta quinta-feira, o executivo europeu ainda pede que o Brasil se
comprometa com acordos climáticos e de direitos humanos, antes de qualquer
reaproximação entre os dois lados: o bloco e o Brasil. A falta de avanço
nestas duas questões pode levar os europeus a vetarem a adesão do Brasil na
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
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