Sede da Otan (Foto: Reuters) |
Por José Reinaldo Carvalho (*) - A cúpula da Otan realizada nesta terça (28) e quarta (29) em Madri não deixa dúvidas de que a aliança atlântica é uma organização agressiva, belicista, fomentadora de intervenções e guerras. Os chefes de Estado reunidos na capital espanhola deixaram claro que não têm qualquer compromisso com a paz mundial, o equilíbrio de poder, a democratização das relações internacionais e o empenho na construção de uma ordem internacional sem hegemonias. Nem mesmo quanto à crise ucraniana, que esteve no centro das discussões, os líderes das potências ocidentais revelaram qualquer interesse em oferecer soluções eficazes conducentes à paz ou, no mínimo, a um cessar-fogo.
O sentido principal do convescote belicista de
Madri foi uma espécie de refundação da aliança militar que, surgida em 1949
para combater a União Soviética e demais países socialistas do Leste Europeu,
já deveria ter sido extinta desde 1991, quando a URSS foi extinta e ocorreu uma
contrarrevolução burguesa nos antigos países socialistas da Europa
oriental.
O que os chefes das potências imperialistas fizeram foi reafirmar os princípios agressivos da Aliança Atlântica e acrescentar novas noções ao seu conceito estratégico, além de jogar gasolina na fogueira do conflito ucraniano. O próprio secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, disse que a cúpula de Madri constituía um "ponto de virada".
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Vejamos em resumo em que consiste a virada: maior
presença estadunidense na Europa, aumento das estruturas e tropas da Otan no
leste do velho continente, ampliação do número de países membros e designação
dos inimigos estratégicos.
O número de soldados de prontidão na parte leste da
Europa passará dos atuais 40 mil para mais de 300 mil. Essas tropas serão
distribuídas entre Lituânia, Estônia, Letônia, Polônia, Romênia, Hungria,
Eslováquia e Bulgária. Tropas alemãs também ficarão de prontidão. Especialistas
militares consideram que se trata da maior revisão da política de guerra da
Otan desde a Guerra Fria.
Quanto à ampliação do número de países membros, a
cúpula formalizou o convite à Finlândia e à Suécia, sem explicitar que desiste
de atrair para suas fileiras a Ucrânia e a Geórgia.
Em relação à Rússia, a Otan afirmou que “é a ameaça
mais direta e significativa à segurança dos aliados e à paz e estabilidade na
zona euro-atlântica”. O país euro-asiático foi acusado de procurar estabelecer
esferas de influência e controle direto sobre outros países por meio de
coerção, subversão, agressão e anexação.
A China por sua vez, foi atacada como um país que
usa uma ampla gama de ferramentas, entre elas militares, para supostamente
aumentar sua presença global e gerar dependências mediante influência econômica
obtida deslealmente. "As políticas e ambições da China desafiam nossos
interesses, segurança e valores", enfatiza o documento da Otan
Ambos os países responderam à altura. A Rússia, por
meio do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, resumiu em duas palavras como vê a
Otan: "aliança agressiva".
A China disse que as opiniões da Otan são vãs. O
porta-voz da chancelaria do país socialista asiático Zhao Lijian afirmou que o
documento definidor do novo conceito estratégico da aliança atlântica
"ignora a realidade e apresenta os fatos ao contrário do que são",
empenhando-se em "manchar a política externa chinesa”, reafirmada por seu
governo como uma política de paz.
Ao se preparar para confrontações imediatas contra
a Rússia e futuras, tendo como alvo a China, a Otan busca por meio do
militarismo e da preparação para a guerra, impedir o surgimento do mundo
multipolar, chocando-se assim frontalmente com uma realidade irreversível.
Jornalista, editor internacional do
Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc
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