quarta-feira, 18 de maio de 2022

O BRASIL NA IMPRENSA ALEMÃ


@Adriano Machado/REUTERS/Nelson Almeida/AFP


DW


Disputa entre Lula e Bolsonaro nas próximas eleições, carnaval politizado e os impactos da plantação de soja no Brasil são destaques na imprensa alemã.


Neues Deutschland: "Soja é a morte" (17/05)

Prato ou tanque? Essa questão pode se tornar supérflua na Alemanha, pois o biocombustível não deve mais ser produzido a partir de culturas. [...] A conferência dos governadores decidiu na sexta-feira que o biocombustível, no futuro, deve ser composto apenas por resíduos, como estrume e resíduos da colheita.

Enquanto a Alemanha hesitou por muito tempo, a França, Holanda e Dinamarca foram mais enérgicas. Aqui, a produção de biocombustíveis a partir de culturas alimentícias deve ser encerrada ainda neste ano.

As consequências catastróficas das culturas energéticas foram mostradas no Parlamento Europeu na semana passada. O deputado Martin Häusling (Verdes) convidou afetados e especialistas do Brasil. A soja produzida neste país sul-americano vai parar em tanques e manjedouras aqui. A área de produção de soja nos últimos 20 anos dobrou "em uma área maior do que a Bélgica", explicou o jornalistas André de Campos. E o cultivo não é nenhum pouco neutro para o clima. [...] "O desmatamento para a produção de soja é a nossa maior contribuição para as mudanças climáticas", disse Campos.

Isso é uma catástrofe para as comunidades indígenas locais. "Não somente as florestas estão desaparecendo, mas também rios e riachos", contou Jabson Nagelo da Silva, que vive numa comunidade indígena na região amazônica. "O que ainda corre está, muitas vezes, contaminado. Além disso, nossos líderes são perseguidos e mortos. Por favor, revejam sua política de biocombustíveis, nós somos quem tem que viver com as consequências", pediu.

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Larissa Bombardi, da Unversidade de São Paulo, apresentou fatos assustadores: mais da metade dos pesticidas vendidos no Brasil vai parar na soja.

Somente entre 2010 e 2020, o consumo de pesticidas aumentou de 350 mil toneladas para 700 mil toneladas. "Cinco dos ingredientes ativos mais utilizados são proibidos ou não foram liberados na UE", segundo Bombardi. Além disso, a expansão das enormes monoculturas ocorre às custas de alimentos tradicionais como arroz e feijão. A consequência: 12% da população rural não têm mais o suficiente para comer. Uma indígena do Cerrado, que também estava presente, resumiu: "A soja é a morte".

der Freitag: Samba contra Bolsonaro (12/05)

Quando o sol nasce sobre a paisagem exuberante de granito e quartzo na periferia do Rio de Janeiro, José Leonardo da Silva parte. Com seus 1,90 metros, ele veste uma fantasia de caixa de Viagra. Seu objetivo são as festas de rua na praia, onde centenas de foliões semivestidos se reúnem para celebrar o primeiro carnaval depois da covid. José Leonardo quer enviar com sua fantasia a mensagem de que é um escândalo intolerável a compra de dezenas de milhares de comprimidos para disjunção erétil pelo Ministério da Defesa sob o comando do presidente Jair Bolsonaro. "O carnaval é sempre política", diz o psicólogo de 43 anos. [...]

A poucas semanas de uma campanha eleitoral excitante e certamente desgastante pela alma brasileira, antes que o próximo chefe de Estado seja eleito no início de outubro, muitos veem o carnaval com uma oportunidade para extravasar sua ira sobre o atual presidente de extrema-direita.

No entanto, Bolsonaro conta ainda com o apoio de sua base extremamente fiel, mesmo que pesquisas indiquem que mais da metade da população o rejeita. Gritos altos de "fora Bolsonaro" ecoam no Sambódromo no começo do primeiro desfile das melhores escolas de samba do Rio desde o início da pandemia. Enquanto tenta assistir ao desfile, o filho do presidente Flávio Bolsonaro é seguido e é alvo de zombaria de foliões irritados. Um cartaz colocado na arquibancada pede o impeachment de seu pai. Em resposta, o público de um camarote de luxo exclusivo evoca insultos contra o principal adversário do presidente, o popular de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.

Nas ruas, no entanto, e nos blocos, a simpatia por Lula rebenta com frequência entre os amantes do samba. Para eles, os dois anos de abdicação da maior festa do mundo foi um tempo de solidão atípica, de perda e dor. Eles precisaram aceitar que as escolas de samba viraram por meses centros de vacinação. Figurinistas, sambistas, bateristas e compositores não sobreviveram à infecção. Muitos perderam a vida ou entes queridos. [...]

Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung: Lula contra Bolsonaro: o duelo pelo Brasil (15/05)

Era quase impossível de deter o senhor de barba branca quando ele apareceu diante uma multidão em Contagem na semana passada. A voz rouca, os olhos brilhantes, a cabeça corada: "É fácil governar o Brasil. É só pensar o que o povo tem no coração. A maioria dos governantes não gosta no povo. Mas eu amo o povo".

O Brasil não vê atuações como essa há anos. Mas esse que fala é um antigo conhecido de todos os brasileiros e do mundo. Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido apenas como Lula, está de volta. [...]

Agora depois de muitos anos de pausa, Lula luta agora pelo cargo que já ocupou uma vez. [...] Mas mesmo que os brasileiros o aclamem como antes, ... algo mudou. Isso não tem relação com a idade avançada de Lula, que hoje tem 76 anos. Mas com uma mácula que pesa sobre sua espantosa história de ascensão. [...]

Em um julgamento questionável, que o Supremo anulou posteriormente, o antigo queridinho dos brasileiros foi condenado a muitos anos de prisão por corrupção. Uma mancha ficou. Mesmo que Lula não tenha se beneficiado pessoalmente com os pagamentos ilegais, ele deixou um sistema prosseguir que o possibilitou conseguir o apoio de políticos por meio de favores provenientes dos cofres públicos. Essa é uma prática comum no Brasil há décadas. Lula e o seu partido, o PT, prometeram acabar com ela. Isso nunca aconteceu.

Essa é uma das pouquíssimas coisas em comum entre Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro, um capitão da reserva, que chegou ao poder em 2019 também por prometer acabar com a corrupção na política. Isso não aconteceu. Em vez disso, Bolsonaro parece ter usado o sistema de muitos pequenos favores para seu benefício político. [...]

O Brasil enfrenta agora uma eleição estranha. Os dois candidatos mais bem colocados são rejeitados veementemente, cada um deles, por parte da população. Quem quer Lula, quer impedir Bolsonaro, e vice-versa. [...]

Pela primeira vez na história democrática do Brasil, concorrem dois candidatos que já foram presidentes. Isso poderia gerar certa previsibilidade, um valor importante ao menos no mundo corporativo. Mas a constelação também gera desconforto entre as empresas brasileiras. [...]

Um claro sinal para a economia foi a escolha de Geraldo Alckmin para vice de Lula...Aqui também transparece: Lula não quer nunca mais ser visto com um terror de mercado...

É indiscutível que a União Europeia lidaria mais fácil com Lula do que com o errante Bolsonaro. Mas as posições de Lula não devem agradar aos europeus: ele culpou a Ucrânia pela guerra e defende manter abertos todos os canais de diálogo com Moscou.

Quanto mais apertados forem os resultados, mais difícil pode se tornar a situação no Brasil. Enquanto Lula vai de um comício ao outro, Bolsonaro já levanta suspeitas sobre o processo eleitoral, muito no estilo de seu modelo Donald Trump...O Brasil está na iminência de uma primavera quente.

cn (ots)

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