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DW
Disputa entre Lula e Bolsonaro nas próximas eleições, carnaval
politizado e os impactos da plantação de soja no Brasil são destaques na
imprensa alemã.
Neues
Deutschland: "Soja é a morte" (17/05)
Prato ou tanque? Essa questão pode se
tornar supérflua na Alemanha, pois o biocombustível não deve mais ser produzido
a partir de culturas. [...] A conferência dos governadores decidiu na
sexta-feira que o biocombustível, no futuro, deve ser composto apenas por
resíduos, como estrume e resíduos da colheita.
Enquanto a Alemanha hesitou por muito
tempo, a França, Holanda e Dinamarca foram mais enérgicas. Aqui, a produção de
biocombustíveis a partir de culturas alimentícias deve ser encerrada ainda
neste ano.
As consequências catastróficas das
culturas energéticas foram mostradas no Parlamento Europeu na semana passada. O
deputado Martin Häusling (Verdes) convidou afetados e especialistas do Brasil.
A soja produzida neste país sul-americano vai parar em tanques e manjedouras
aqui. A área de produção de soja nos últimos 20 anos dobrou "em uma área
maior do que a Bélgica", explicou o jornalistas André de Campos. E o
cultivo não é nenhum pouco neutro para o clima. [...] "O desmatamento para
a produção de soja é a nossa maior contribuição para as mudanças
climáticas", disse Campos.
Isso é uma catástrofe para as
comunidades indígenas locais. "Não somente as florestas estão
desaparecendo, mas também rios e riachos", contou Jabson Nagelo da Silva,
que vive numa comunidade indígena na região amazônica. "O que ainda corre
está, muitas vezes, contaminado. Além disso, nossos líderes são perseguidos e
mortos. Por favor, revejam sua política de biocombustíveis, nós somos quem tem
que viver com as consequências", pediu.
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Larissa Bombardi, da Unversidade de
São Paulo, apresentou fatos assustadores: mais da metade dos pesticidas
vendidos no Brasil vai parar na soja.
Somente entre 2010 e 2020, o consumo de pesticidas aumentou de 350 mil toneladas para 700 mil toneladas. "Cinco dos ingredientes ativos mais utilizados são proibidos ou não foram liberados na UE", segundo Bombardi. Além disso, a expansão das enormes monoculturas ocorre às custas de alimentos tradicionais como arroz e feijão. A consequência: 12% da população rural não têm mais o suficiente para comer. Uma indígena do Cerrado, que também estava presente, resumiu: "A soja é a morte".
der Freitag: Samba contra Bolsonaro (12/05)
Quando o sol nasce sobre a paisagem
exuberante de granito e quartzo na periferia do Rio de Janeiro, José Leonardo
da Silva parte. Com seus 1,90 metros, ele veste uma fantasia de caixa de
Viagra. Seu objetivo são as festas de rua na praia, onde centenas de foliões
semivestidos se reúnem para celebrar o primeiro carnaval depois da covid. José
Leonardo quer enviar com sua fantasia a mensagem de que é um escândalo
intolerável a compra de dezenas de milhares de comprimidos para disjunção
erétil pelo Ministério da Defesa sob o comando do presidente Jair Bolsonaro.
"O carnaval é sempre política", diz o psicólogo de 43 anos. [...]
A poucas semanas de uma campanha
eleitoral excitante e certamente desgastante pela alma brasileira, antes que o
próximo chefe de Estado seja eleito no início de outubro, muitos veem o
carnaval com uma oportunidade para extravasar sua ira sobre o atual presidente
de extrema-direita.
No entanto, Bolsonaro conta ainda com
o apoio de sua base extremamente fiel, mesmo que pesquisas indiquem que mais da
metade da população o rejeita. Gritos altos de "fora Bolsonaro" ecoam
no Sambódromo no começo do primeiro desfile das melhores escolas de samba do
Rio desde o início da pandemia. Enquanto tenta assistir ao desfile, o filho do
presidente Flávio Bolsonaro é seguido e é alvo de zombaria de foliões
irritados. Um cartaz colocado na arquibancada pede o impeachment de seu pai. Em
resposta, o público de um camarote de luxo exclusivo evoca insultos contra o
principal adversário do presidente, o popular de esquerda Luiz Inácio Lula da
Silva.
Nas ruas, no entanto, e nos blocos, a simpatia por Lula rebenta com frequência entre os amantes do samba. Para eles, os dois anos de abdicação da maior festa do mundo foi um tempo de solidão atípica, de perda e dor. Eles precisaram aceitar que as escolas de samba viraram por meses centros de vacinação. Figurinistas, sambistas, bateristas e compositores não sobreviveram à infecção. Muitos perderam a vida ou entes queridos. [...]
Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung: Lula contra Bolsonaro: o duelo pelo Brasil (15/05)
Era quase impossível de deter o
senhor de barba branca quando ele apareceu diante uma multidão em Contagem na
semana passada. A voz rouca, os olhos brilhantes, a cabeça corada: "É
fácil governar o Brasil. É só pensar o que o povo tem no coração. A maioria dos
governantes não gosta no povo. Mas eu amo o povo".
O Brasil não vê atuações como essa há
anos. Mas esse que fala é um antigo conhecido de todos os brasileiros e do
mundo. Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido apenas como Lula, está de volta.
[...]
Agora depois de muitos anos de pausa, Lula luta agora pelo cargo que já ocupou uma vez. [...] Mas mesmo que os brasileiros o aclamem como antes, ... algo mudou. Isso não tem relação com a idade avançada de Lula, que hoje tem 76 anos. Mas com uma mácula que pesa sobre sua espantosa história de ascensão. [...]
Em um julgamento questionável, que o
Supremo anulou posteriormente, o antigo queridinho dos brasileiros foi
condenado a muitos anos de prisão por corrupção. Uma mancha ficou. Mesmo que
Lula não tenha se beneficiado pessoalmente com os pagamentos ilegais, ele
deixou um sistema prosseguir que o possibilitou conseguir o apoio de políticos
por meio de favores provenientes dos cofres públicos. Essa é uma prática comum
no Brasil há décadas. Lula e o seu partido, o PT, prometeram acabar com ela.
Isso nunca aconteceu.
Essa é uma das pouquíssimas coisas em
comum entre Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro, um capitão da reserva,
que chegou ao poder em 2019 também por prometer acabar com a corrupção na
política. Isso não aconteceu. Em vez disso, Bolsonaro parece ter usado o
sistema de muitos pequenos favores para seu benefício político. [...]
O Brasil enfrenta agora uma eleição
estranha. Os dois candidatos mais bem colocados são rejeitados veementemente,
cada um deles, por parte da população. Quem quer Lula, quer impedir Bolsonaro,
e vice-versa. [...]
Pela primeira vez na história democrática do Brasil, concorrem dois candidatos que já foram presidentes. Isso poderia gerar certa previsibilidade, um valor importante ao menos no mundo corporativo. Mas a constelação também gera desconforto entre as empresas brasileiras. [...]
Um claro sinal para a economia foi a
escolha de Geraldo Alckmin para vice de Lula...Aqui também transparece: Lula
não quer nunca mais ser visto com um terror de mercado...
É indiscutível que a União Europeia
lidaria mais fácil com Lula do que com o errante Bolsonaro. Mas as posições de
Lula não devem agradar aos europeus: ele culpou a Ucrânia pela guerra e defende
manter abertos todos os canais de diálogo com Moscou.
Quanto mais apertados forem os
resultados, mais difícil pode se tornar a situação no Brasil. Enquanto Lula vai
de um comício ao outro, Bolsonaro já levanta suspeitas sobre o processo
eleitoral, muito no estilo de seu modelo Donald Trump...O Brasil está na iminência
de uma primavera quente.
cn (ots)
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