IGOR GIELOW – Folha de São Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O cerco mais brutal da
Guerra da Ucrânia acabou nesta segunda-feira (16), com o início da retirada dos
últimos defensores de Mariupol, que resistiram contra força russas desde o
início do conflito, há 82 dias.
Cinco ônibus participaram da operação ao longo do
dia, de forma coordenada entre Kiev e os russos. Os 53 feridos mais graves
foram levados para um hospital em Novoazovsk, cidade ocupada por Moscou a 32 km
do complexo siderúrgico Azovstal, onde os ucranianos estavam escondidos em
condições apavorantes.
Outros 211 militares foram para Olenivka, uma cidade sob controle dos separatistas russófonos do Donbass, leste ucraniano. Todos são elegíveis a serem trocados por prisioneiros de guerra russos, embora haja dúvidas sobre o futuro daqueles pertencentes ao Batalhão Azov que dividia a resistência local com uma guarnição de fuzileiros navais.
Uma unidade de inspiração neonazista que lutou na
guerra civil de 2014 e 2015, o Azov é parte da Guarda Nacional ucraniana. Toda
a propaganda belicista russa é baseada na ideia de que é necessário
"desnazificar" o vizinho, com a premissa fantasiosa de que todo o
sistema político e militar da Ucrânia é fascista.
O comando militar em Kiev determinou o fim das
operações de combate em Mariupol, um truísmo, dado que restavam apenas os
defensores entocados e sob bombardeio em Azovstal. A cidade está sob controle
russo desde o mês passado, mas a resistência seguia. Nas últimas semanas, civis
foram evacuados do local.
O governo de Volodimir Zelenski buscou tratar a
derrota como um exemplo de heroísmo. "A Ucrânia precisa de seus heróis
vivos", disse o presidente, comentando a operação para retirar os feridos.
Ainda não se sabe o contingente exato a participar da evacuação: há relatos de
que 600 militares chegaram a se esconder na siderúrgica.
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A vitória russa é de grande simbolismo numa guerra
em que seus fracassos têm chamado a atenção, como na retirada do entorno de
Kiev e, agora, de Kharkiv. Mariupol era uma cidade próspera e sede do principal
porto do mar de Azov, um trecho separado do mar Negro que banhava grande parte
da costa ucraniana. Agora, toda a região que vai do Donbass à península da
Crimeia, anexada por Vladimir Putin em 2014, está sob controle de Moscou.
Mariupol foi transformada em uma ruína, com a
prefeitura local estimando 90% de prédios danificados e talvez 20 mil mortos,
entre os mais de 400 mil habitantes do pré-guerra. Houve ataques notórios, como
a destruição de um teatro e de uma maternidade. Ninguém sabe os números exatos.
Soldados russos da Tchetchênia, conhecidos por sua ferocidade, estiveram na
linha de frente do cerco lá.
A resistência ucraniana foi possível pela grande
rede de túneis e bunkers dentro do complexo, desenhada nos tempos da União
Soviética para aguentar até um ataque nuclear. Sem água, comida ou reforços,
contudo, ela ficou impossível. "Eles estão no inferno. Estão sem pernas e
braços, exaustos, sem remédios", disse no começo do dia Natalia Zariskaia,
mulher de um soldado do Azov, à agência Reuters.
Os comandantes das forças locais se queixaram, em
pelo menos duas ocasiões, de terem sido abandonados à própria sorte por Kiev.
Criticaram também o que chamaram de preparação insuficiente para a guerra na
cidade.
EM TEMPO: Convém lembrar que os combatentes ucranianos demoraram muito a se entregarem porquê há indício que entre eles se encontravam alguns militares estrangeiros, além do Batalhão Azov, formado por neonazistas
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