Yahoo Notícias, Matheus Pichonelli
seg., 10 de janeiro de 2022
Jair Bolsonaro com
o diretor-presidente da Anvisa, o contra almirante Antonio Barra Torre. Foto:
Adriano Machado/Reuters
No grupo de amigos jornalistas no
WhastApp, o print da carta-resposta a Jair Bolsonaro assinada pelo médico e
contra-almirante Antonio Barra Torres, diretor presidente da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), foi compartilhada em tom de desconfiança. “É
verdade esse ‘bilete’?”, perguntou um dos integrantes, fazendo referência ao
meme em que uma criança forja a mensagem da professora para a mãe e atesta a
veracidade do comunicado de modo, digamos, pouco convencional.
A desconfiança é um dos muitos
sintomas da degradação institucional em curso.
Órgão responsável por promover a
proteção da saúde da população, a Anvisa se tornou alvo de uma ofensiva
ideológica que coloca em dúvida decisões técnicas relacionadas a temas-chave
como a aprovação de vacinas. As bicas na credibilidade da instituição têm sido
patrocinadas pelo próprio presidente da República, que em entrevista na semana
passada perguntou o que estava por trás e qual era o “interesse” da agência e
das pessoas “taradas por vacina” em querer imunizar crianças de 5 a 11 anos.
Antes disso, ombreado pelos sabujos
de sempre, o governo iniciou uma sórdida campanha para expor à turba formada
por ignorantes e negacionistas de toda ordem os nomes dos técnicos responsáveis
por autorizar a imunização dos jovens no país, contrariando a vontade do
presidente –em campanha contra a vacina antes mesmo da primeira oferta do
primeiro fabricante.
A nota do contra-almirante, indicado
ao cargo por Bolsonaro em 2020, expôs uma metralhadora cheia de mágoas contra o
capitão, de quem se dizia amigo até pouco tempo. É também uma aula de
personalismo incrustrado num órgão técnico, o que evidencia o abalo
institucional promovido pela turma. Daí a dúvida sobre se a carta-resposta era
real ou não. Era.
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Irritado com a declaração de Bolsonaro,
Barra Torres levou para o levou pessoal e praticamente intimou o presidente a
provar o que dizia. “Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor
indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique,
Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha
pessoa, aliás sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa”, instigou.
À maneira do ex-aliado, Torres tomou
o Santo Nome em vão para pedir que o presidente “exerça a grandeza que o seu
cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate”.
Até agora, nada.
Ao peitar o presidente em nota
aberta, o contra-almirante jogou mais combustível no processo de desmoralização
do capitão. Na nota, ele fez questão de dizer que atuou como oficial general da
Marinha por 32 anos, como se fizesse questão de lembrar que o presidente deixou
as Forças Armadas pelas portas dos fundos –o que ocorreu após responder a um
processo de indisciplina sob risco de expulsão.
O tom da fala coloca Barra Torres em
uma prateleira de desafetos militares do presidente em companhia de nomes como
o ex-ministro e general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz, o ex-chefe de
assuntos estratégicos Maynard Santa Rosa, o ex-porta voz Rêgo Barros e o
ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, demitido por recusar o
alinhamento automático às ideias golpistas do chefe. A lista é maior e o viés é
de alta.
A nota é publicada no momento em que
Bolsonaro enfrenta outro princípio de desgaste. Ele mal disfarça o desconforto
com a recomendação do Exército para a vacinação de militares.
Apesar do que diz o senso comum,
Bolsonaro não é unanimidade entre militares, apesar de ter nos quartéis uma
base de apoio considerável. Para muitos ele é apenas tolerado. Uma espécie de
mal necessário. Para outros, um cavalo de Tróia para retomar o protagonismo de
outros tempos na gestão pública.
A série de patadas em quem entrou no barco como
aliado e saiu como desafeto agora se volta ao capitão. A diferença é que, com
Barra Torres, o mandato é fixo, garantido até 2024, e Bolsonaro nada pode fazer
a não ser engolir a bronca ou espernear.
EM TEMPO: Apesar de serem capacitados e treinados militarmente, os militares brasileiros, da atualidade, são bastante conservadores e muito envolvidos naquilo que eles não dominam, ou seja, a política. Foram com muita "sede ao pote", isto é, ao poder, mas "quebraram o pote", uma vez que não levaram em consideração que Bozo é despreparado, negacionista, extremista de direita, miliciano e sempre foi arruaceiro e sem conserto.
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