27 de janeiro de 2022
Por Jorge Cadima – ODIARIO.INFO
«A verdadeira ameaça
para a paz e para os povos reside no decadente sistema capitalista que, incapaz
de resolver as suas contradições, aposta cada vez mais no autoritarismo, na
violência, na guerra e na sua companheira inseparável: a mentira. Permanente e cada
vez mais desligada da realidade, mas veiculada de forma incessante pelo aparato
de propaganda que dá pelo enganador nome de meios de comunicação social.»
Reza a lenda que o
Imperador Nero tocava lira enquanto Roma ardia. Dois anos de pandemia «viram os
rendimentos de 99% da Humanidade caírem e lançaram mais de 160 milhões de
pessoas na pobreza», mas «os dez homens mais ricos do mundo duplicaram as suas
fortunas» a um ritmo de «1,3 bilhões de dólares por dia» (relatório sobre a
desigualdade da Oxfam, 17.1.22). Para os gigantes farmacêuticos, a COVID foi um
maná. O Financial Times (8.1.22) anuncia que «os bancos de Wall Street
preparam-se para anunciar lucros recordes em 2021». A Oxfam explica o que é o
capitalismo em tempos de COVID: «os bancos centrais canalizaram trilhões de
dólares para os mercados financeiros […que] em boa parte acabaram por encher os
bolsos dos bilionários». Mas esta «pilhagem liberal» é também um salve-se quem
puder de fim de época.
Não cabe nesta coluna a lista das guerras, invasões, subversões e provocações desencadeadas pelos EUA/OTAN/UE nas últimas décadas. Mas agora acenam com uma ameaça russa ou chinesa. É como o bully na escola que se põe a chorar quando uma vítima diz: “basta!”. Ainda é cedo para fazer um balanço das reuniões Rússia-EUA, Rússia-OTAN e na OSCE, que ocorreram entre 10 e 14 de janeiro. Mas o fato de ser uma iniciativa diplomática russa (que alguns apelidaram ultimato) que origina esta série de reuniões é sinal de que a ditadura planetária unilateral dos EUA que se seguiu às contrarrevoluções do final do século XX enfrenta hoje uma correlação de forças mundial diferente.
Que é indissociável de três
aspectos fundamentais e interligados: a resistência de povos e países em luta
pela sua soberania, que dá sinais de crescente convergência; o impetuoso
crescimento econômico de países, com destaque para a República Popular da
China, que alterou a correlação de forças econômicas mundial; e a profunda
crise do sistema capitalista e dos principais centros imperialistas, EUA e a
UE, que agudiza todas as contradições e cria a possibilidade real de
sobressaltos econômicos, políticos e sociais.
A verdadeira ameaça
para a paz e para os povos reside no decadente sistema capitalista que, incapaz
de resolver as suas contradições, aposta cada vez mais no autoritarismo, na
violência, na guerra e na sua companheira inseparável: a mentira. Permanente e
cada vez mais desligada da realidade, mas veiculada de forma incessante pelo
aparato de propaganda que dá pelo enganador nome de meios de comunicação
social.
É real o perigo de
provocações do imperialismo, que possam ser usadas para tentar justificar uma
aventura militar de consequências imprevisíveis. Quando dos Jogos Olímpicos de
Verão de 2008 em Pequim, o imperialismo lançou os seus súditos georgianos numa
aventura militar que provocou a morte de vários soldados russos. Quando dos
Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 na Rússia, o imperialismo lançou o golpe de
Estado na Ucrânia que levou fascistas assumidos a ocupar altos cargos de poder
naquele país e provocou a revolta no Donbass. Aproximam-se os Jogos Olímpicos
de Inverno de 2022, que começam em 4 de fevereiro, em Pequim. Toda a vigilância
é pouca.
Fonte:
https://www.avante.pt/pt/2512/opiniao/166625/A-lira-do-capitalismo.htm?tpl=179
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