Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken |
FOLHA - PATRÍCIA CAMPOS MELLO
Congressistas democratas e ativistas progressistas têm aumentado a pressão para que o governo de Joe Biden mantenha distanciamento do presidente Jair Bolsonaro, apontando violações de direitos humanos, atos antidemocráticos e destruição ambiental no Brasil.
Só em 2021, houve
pelo menos seis cartas e comunicados de deputados e senadores ao presidente
americano, ao secretário de Estado, Antony Blinken, e ao assessor de Segurança
Nacional, Jake Sullivan, pedindo endurecimento da política externa dos EUA em
relação ao governo Bolsonaro.
Na semana que vem,
Blinken fará sua primeira viagem à América do Sul. Ele passará por Colômbia e
Equador, mas não pelo Brasil.
Fontes do governo
americano afirmam que a definição do roteiro não tem a ver com possíveis
divergências com Bolsonaro ou pressões do Congresso. Segundo uma autoridade,
Blinken visitará esses dois países porque os EUA ainda não mantiveram encontros
de alto nível com os governos de Iván Duque e Guillermo Lasso durante o mandato
de Biden; o Brasil, em contrapartida, recebeu visita de Sullivan em agosto.
Além disso, o tema
central da viagem será a imigração, e o Brasil não figuraria como central para
a questão, apesar de a quantidade de cidadãos brasileiros tentando entrar
ilegalmente nos EUA ter explodido nos últimos meses.
As alegações não
mudam o fato de Washington manter divergências em relação a questões como a
política ambiental de Bolsonaro e as ameaças que o presidente faz ao sistema
eleitoral. Esses temas, ressalta o funcionário do governo americano, têm
implicações.
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Os principais
grupos por trás do ativismo pró-democracia e preservação da Amazônia são Amazon
Watch, Rede dos Estados Unidos pela Democracia no Brasil, AFL-CIO (maior
federação de sindicatos dos EUA, que tem ligações históricas com a CUT), Center
for Economic and Policy Research, Greenpeace, Human Rights Watch e Washington
Brazil Office.
Só a Rede pela
Democracia tem 1.500 afiliados, americanos e brasileiros vivendo nos EUA,
incluindo 350 brasilianistas de 45 universidades. "Em 1964, quase nenhum
legislador americano se opôs ao golpe militar no Brasil; hoje, existe enorme
preocupação no Congresso com a deterioração da democracia brasileira", diz
James Green, professor titular de História do Brasil da Universidade Brown e um
dos coordenadores da Rede.
Para o governo dos
EUA, o ideal seria um candidato de terceira via no Brasil [nas eleições de
2022], mas o Executivo sabe que [o ex-presidente] Lula [PT] não é socialista
nem comunista e se deu muito bem com o [republicano] George W. Bush quando os
dois estavam na Presidência. O petista lidera as intenções de voto para o
pleito do ano que vem.
Green, que é
próximo da ex-presidente Dilma Rousseff, diz que os ativistas de oposição ao
governo Bolsonaro nos EUA têm boa interlocução com as alas progressistas no
Congresso, mas menos influência no Executivo. Ainda assim, ele avalia que o
governo Biden tem tentado se distanciar do brasileiro.
Desde a posse do
democrata, em janeiro, os dois líderes ainda não se encontraram. Bolsonaro era
próximo de Donald Trump e torceu publicamente pela derrota de Biden nas
eleições americanas de 2020. Os dois tampouco se reuniram às margens da
Assembleia-Geral da ONU, em setembro.
Na semana do
encontro, porém, Blinken esteve com o chanceler Carlos França e pediu ao Brasil
que aceitasse receber refugiados do Afeganistão e do Haiti. Em agosto, o
assessor Jake Sullivan se encontrou com o presidente em Brasília, e em julho,
William J. Burns, diretor da CIA, a agência de inteligência dos EUA, também fez
uma visita oficial.
"Entre os
democratas, Bolsonaro é considerado politicamente radioativo por causa de suas
políticas em relação à Covid, ações antidemocráticas e a destruição da
Amazônia", diz Andrew Miller, diretor de advocacy da Amazon Watch em
Washington. "Com a entrada de uma leva de legisladores mais progressistas
e dado o estreito relacionamento entre Trump e os Bolsonaros, ganhou força a
oposição a qualquer tipo de acordo comercial entre EUA e Brasil, mesmo entre
democratas pró-livre comércio".
Segundo Miller,
entra nesse contexto de mensagens a Biden o fato de o apoio da bancada
progressista ser importante para que o presidente consiga aprovar uma série de
medidas do governo, aliás, tenta destravar a tramitação de alguns projetos no
Legislativo.
Ele acredita que a
pressão da sociedade civil e do Congresso ajudou na saída do ex-embaixador em
Brasília Todd Chapman, próximo a Bolsonaro, e impediu o governo americano de
fechar algum tipo de acordo com o Brasil durante a Cúpula do Clima, em abril.
Agora, as entidades
estão concentradas em tentar emplacar na representação diplomática dos EUA em
Brasília alguém que "tenha histórico em defesa dos direitos humanos,
democracia e meio ambiente" e pressionar por ações mais enérgicas do
governo Biden para a Amazônia.
"Nos últimos
anos temos trabalhado predominantemente com a bancada progressista, que inclui
muitos membros da Bancada de Afrodescendentes [Congressional Black Caucus] e
LGBTQIA+. Muitos desses parlamentares já se mostravam preocupados com a
situação política no Brasil desde 2016", diz Juliana Moraes,
diretora-executiva do Washington Brazil Office.
"Com o período
eleitoral, em 2018, a preocupação começou a aumentar entre outros
congressistas, vários deles mais à direita e considerados moderados no Partido
Democrata".
A última carta de
rechaço a Bolsonaro, enviada na quinta-feira (14), teve assinatura de 64
deputados e pediu a Biden um recuo nas relações entre EUA e Brasil até que
"um novo líder, mais alinhado a valores democráticos e direitos humanos,
seja eleito".
Na carta, o
democrata Hank Johnson e outros deputados apontaram para tentativas do
brasileiro de deslegitimar as eleições presidenciais de 2022 e para o apoio
dele à contestação da vitória de Biden em 2020. "Bolsonaro apoiou as
declarações falsas de [Donald] Trump sobre fraude na eleição e foi um dos
últimos líderes globais a reconhecer sua vitória eleitoral, o que põe em dúvida
a disposição dele de aceitar os resultados da eleição brasileira em 2022",
escreveram.
Os legisladores
solicitaram ainda que Biden anule a designação de aliado preferencial
extra-Otan, concedida ao Brasil durante o governo Trump; que retire a oferta de
apoio para o Brasil se tornar sócio global da aliança militar ocidental; e
reveja programas de cooperação entre os dois países.
O apoio para o
Brasil se tornar sócio da Otan foi oferecido durante a visita ao Brasil do
assessor de Segurança Nacional, Jake Sullivan, e gerou críticas no Congresso
americano.
O presidente da
Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, o democrata Bob Menendez,
e outros três parlamentares enviaram uma carta no fim de setembro instando o
governo Biden a deixar claro para Bolsonaro que qualquer ruptura democrática no
Brasil "terá sérias consequências.
Na ocasião, o
embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, disse que o senador estava
mal informado. "O dinamismo e a vitalidade das instituições democráticas
brasileiras contrastam vivamente com os regimes autoritários do hemisfério,
fonte de preocupação para nossos dois governos."
EM TEMPO: Ao certo ainda não está claro o que se passou nos bastidores no dia 07.09.2021 data escolhida por Bozo para dar o "autogolpe". O certo é que não existe "autogolpe" sem combinar com o governo dos EUA. Não sabemos com precisão o que foi que houve, mas os militares estão bastante quietos e Bozo, após a "carta de rendição", não falou mais em "autogolpe", optando por combater, inutilmente, a vacinação, a qual é responsável pela redução das mortes e pela propagação do vírus da COVID 19.
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