Nego drama
Cabelo crespo e a
pele escura. A ferida, a chaga, à procura da cura
Negro drama –
Racionais MC’s
COLETIVO NEGRO
MINERVINO DE OLIVEIRA
– NÚCLEO MARINGÁ
A pandemia escancarou
a lógica de classes da sociedade brasileira e arrancou o véu do mito da
democracia racial. O racismo brasileiro é um dos determinantes das mortes por
COVID-19, fazendo com que negros sejam os mais infectados e, consequentemente,
os que mais morrem. Até julho de 2020, 55% dos negros positivados foram a
óbito, em contraposição aos 38% dos brancos. Neste mesmo período, foram 250
óbitos a cada 100 mil habitantes, enquanto o número de brancos estava em 157 a
cada 100 mil. A cada dez pessoas que relatam mais de um sintoma de covid, sete
são pretas ou pardas.
O mito da democracia
racial serviu, em um primeiro momento, para demonstrar um suposto caráter
democrático do vírus. Porém, os números de óbitos desmentem essa teoria e
comprovam as relações racializadas e como elas provocam relações desiguais.
Nas grandes cidades,
o maior número de mortes vem dos bairros com maior número de negros. Até julho
de 2020, Brasilândia em São Paulo era o bairro com mais mortes e, também, com
mais negros (mais de 50%). Na contramão, Moema era o bairro que tinha o menor
número de mortes e possuía também o menor número de residentes negros na
região, somando apenas 6%. O vírus não discrimina, quem faz isso é a lógica da
sociedade capitalista.
No Brasil todo temos
25% mais mortes de negros. Na idade até 29 anos, morreram 4 vezes negros mais
que brancos em 2020.
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A primeira vítima da
covid-19 no Brasil foi uma mulher negra, empregada doméstica de 63 anos. Ela
realizava esse trabalho que é um dos que possuem a maior participação de
mulheres negras. A regra na pandemia é essa: ou morre trabalhando ou por
desemprego. O trabalho doméstico foi (juntamente com comércio, serviços e
construção civil) um dos setores que teve maior impacto com a pandemia,
resultando em uma grande população desempregada – ou seja, desempregaram-se, em
regra, mulheres negras. Todos esses setores são aqueles que possuem a maior
quantidade de negros e negras – lado a lado com o setor informal.
Além das mortes, a
própria condição de combate ao vírus é mais precária na população negra. As
ações de isolamento e distanciamento social são importantes estratégias de
contingenciamento da pandemia. Mas quem pode fazer isolamento? Sem proteção
social não há isolamento. As relações de trabalho exigem aglomerações, as
cidades e bairros pobres concentram pobreza e, portanto, mais dificuldades de
manter as condições sanitárias. Os deslocamentos dos trabalhadores em
transportes lotados demonstram a impossibilidade de distanciamento. Os negros
estão, portanto, numa condição maior de riscos.
Racismo é essa
relação social de dominação – extremamente funcional à lógica capitalista – que
faz com que negros ocupem os piores trabalhos, condições de vida precárias, os
mais baixos salários e as maiores jornadas de trabalho. O que isso significa?
Significa que,
pagando menos a trabalhadores negros e em jornadas de trabalho maiores, é
possível lucrar ainda mais. Como diz a música: “a carne mais barata do mercado
é a carne negra”.
As pessoas negras
estão geralmente nas áreas mais vulneráveis, o que diz respeito a piores
condições de moradia, saneamento básico, trabalho e renda mais baixa, além de
serem as mais inseridas no mercado informal. Até 2018 os negros eram 64% dos
desocupados e 66,1% dos subutilizados.
Para grupos oprimidos
historicamente, a condição de vida os tornou mais expostos ao adoecimento e à
morte na pandemia. Para piorar ainda mais essa situação, 49% dos negros
brasileiros deixaram de pagar contas básicas, em oposição a 32% dos brancos. A
renda média hoje é de pessoas negras é 1.700 reais e a dos brancos 3.100 reais.
A condição de sobrevivência em situação normal não é a mesma. Na pandemia essa
lógica se agravou. Até mesmo a renda básica emergencial demonstra o corte
racial: 74% dos negros que pediram a renda emergencial tiveram resposta
positiva. Entre os brancos, foi 81%. Ou seja, se você é branco, terá maiores
facilidades de acessar políticas sociais.
Somam-se à pandemia
os ataques aos serviços públicos. Não podemos nos esquecer do teto de gastos
estabelecido em 2016 pela emenda constitucional 95, que congelou por 20 anos os
investimentos em políticas sociais como saúde e educação.
A pandemia e a
destruição dos serviços públicos e da proteção social
Como enfrentar a
pandemia em um processo cada vez maior de sucateamento do sistema de saúde?
Sabe quem são as pessoas mais assistidas pelo SUS? Bingo: as que compõem a
população negra. A cada 5 brasileiros que possuem somente o SUS como serviço de
saúde, 4 são negros. Neste ínterim, um dos principais responsáveis pela agenda
de desgaste do SUS é um cavalo de Tróia de Maringá: Ricardo Barros. O
ex-prefeito pulador de janelas é o principal representante do setor privado da
saúde na política n acional. O financiamento de suas campanhas eleitorais vem,
em maior parte, destes setores.
Vivemos um processo
constante de precarização dos direitos trabalhistas, que afeta a possibilidade
de distanciamento e isolamento. Além do potencial de mortalidade do vírus, a
precarização da vida e a ação do presidente (Fora) Bolsonaro pioram o quadro
nacional, principalmente porque sucateia ações e políticas que são diretamente
ligadas à saúde da população negra.
A crise sanitária e
política que enfrentamos, bem como a forma como os diferentes grupos sociais
foram impactados pelo COVID-19 têm relação direta com aquilo que chamamos de
“luta de classes”, isto é, uma sociedade forjada por classes distintas, com
interesses antagônicos, que lutam tentando colocar as suas necessidades na
ordem do dia.
Enquanto a classe
dominante preocupava-se com a manutenção da sua taxa de lucro, a classe
trabalhadora tentava manter as suas condições de vida e, mesmo sob a pressão da
morte, buscavam conservar seus empregos. Os dois interesses colocaram os
trabalhadores sob os mais variados riscos e, dessa forma, a parte mais afetada
é a classe trabalhadora negra.
A luta contra o
racismo deve ser também uma luta contra o capitalismo
Combater o genocídio
da população negra é combater as relações sociais capitalistas que pioram as
condições de vida da classe trabalhadora e, principalmente, dos seus setores
mais fragilizados. Notícias sobre fome e insegurança alimentar gritam nos
jornais, pessoas buscam restos de comida em açougues. O encarecimento dos
produtos nas prateleiras tem deteriorado ainda mais a mesa da população negra.
É preciso questionar urgentemente a produção social da alimentação, a
agropecuária e o agronegócio.
Além de lutarmos por
melhorar as condições atuais da classe trabalhadora negra, precisamos chamar
atenção para os limites dessa atuação. É imprescindível romper com o
capitalismo para acabar com a lógica que dá origem e função social ao racismo.
O racismo brasileiro não é uma reminiscência da escravidão. Ele possibilita uma
maior exploração capitalista com base na opressão racial. Portanto, todo
projeto antirracista no Brasil deve ser também anticapitalista.
Na atual conjuntura é
importante lutar para reverter os retrocessos que a classe trabalhadora vem
sofrendo e que incide com ainda mais peso sobre negras e negros. É urgente
articular formas de luta e organização antirracista que relacione o problema
racial com a ordem que lhe dá sustentação. A cada crise do capitalismo os
elementos raciais vêm à tona com maior força.
A ssim, a ideologia
da democracia racial serve para que a classe dominante se exima das
responsabilidades políticas com a população negra. Pois se somos todos iguais,
a única responsabilidade pela miséria e morte é do próprio negro. Essa
ideologia acaba culpabilizando a população negra pela sua condição. Isenta-se,
assim, o Estado burguês de qualquer responsabilidade.
Todavia, esse não é
um defeito de funcionamento, mas é a própria lógica da sociedade capitalista.
Por isso nos declaramos socialistas e lutamos por uma sociedade sem classes
sociais, porque só assim poderemos pôr fim ao racismo e a outras formas de
opressão.
Pretos e vermelhos,
Venceremos!
PELO PODER POPULAR!
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