Foto de Alan Santos / PR
Por Afonso Costa
É de conhecimento
público que o processo eleitoral de 2018 foi manobrado por forças
conservadoras: a polêmica facada, a ausência nos debates, as notícias falsas, a
prisão do candidato com maiores chances de vencer, após forte campanha da mídia
empresarial e um processo jurídico ilegal e inconsistente.
Passados cerca de
três anos, o beneficiário de toda essa manobra, o atual presidente, irrompe com
uma cruzada em defesa do voto impresso para garantir a “lisura” do processo
eleitoral.
Ora, que ele conhece
manobras eleitorais é mais do que óbvio; agora, que pose de defensor da
legitimidade e veracidade do processo eleitoral, é estapafúrdio, chegaria a ser
hilário se não fosse a tentativa de uma nova manobra, desta feita inspirada no
último processo eleitoral dos EUA, no qual o candidato derrotado tentou de tudo
para desqualificar a própria derrota.
As pesquisas de
opinião indicam a queda de apoio ao atual governo e seu mandatário, com o consequente
crescimento daquele que era favorito em 2018. Nada mais natural, diante de uma
administração voltada para beneficiar o capital e seus diversos tentáculos, o
sistema financeiro, o agronegócio, as multinacionais, o patronato, enfim a
burguesia. Obviamente em detrimento do povo brasileiro, vide reforma da
Previdência, cassação dos direitos trabalhistas, desemprego, fome, miséria.
Em uma situação
normal, esse quadro já seria mais do que suficiente para abalar qualquer
governo, mas em meio à pandemia, com mais de meio milhão de mortos, 20 milhões
de contaminados, envolvimento de integrantes do governo em denúncias de
corrupção justamente na compra de vacinas que poderiam ter evitado centenas de
milhares de mortes e tanto sofrimento, está claro que não há mais condições do
grupo empresarial-militar que se assomou do governo continuar à sua frente.
Os mais de 120 pedidos de impeachment respondem aos anseios do povo brasileiro, com toda justeza descrente de qualquer mudança positiva por parte de quem já se mostrou incapaz de atender suas necessidades. Aquele que nunca entendeu de Economia, conforme ele mesmo admitiu por várias vezes, fala em defender o emprego ao se colocar contra o isolamento, a utilização de máscaras, a vacinação em massa, quaisquer medidas necessárias para salvaguardar vidas.
Este mesmo, que nunca
pisou em uma faculdade de Medicina, de Farmácia, de Biologia ou de qualquer
outra área científica, abertamente defendeu um remédio que não serve para
combater o vírus, e agora já tirou outro da manga do paletó. Ele não acredita
em Ciência, não se preocupa com a vida do povo brasileiro.
Nesse contexto, os
comandantes das Forças Armadas, núcleo central da atual administração pública,
se colocam integralmente ao lado do mandatário-mor, ameaçando a democracia
duramente conquistada. Passados 36 anos do fim da ditadura empresarial-militar,
voltaram ao governo e comprovaram o que é de conhecimento público: não sabem
governar, o máximo que conseguem é beneficiar a burguesia e os altos escalões
militares.
A disputa central no
atual momento político é, portanto, entre dois projetos: a manutenção das
benesses à burguesia e àqueles que as promovem, de um lado; e o povo brasileiro
e suas demandas por justiça social, de outro. Não há saída sem que qualquer um
dos lados vença, apenas uma falsificação da realidade, algo como esconder a
poeira debaixo do tapete, como feito desde o fim do Governo FHC.
Nessa queda de braço existe um único elemento que pode determinar o vencedor, o maior interessado, o povo brasileiro. A volta às ruas, as manifestações massivas, a organização popular, as denúncias dos lesivos atos governamentais são o caminho para pôr fim a tanto sofrimento. Cabe destacar que no Peru venceu a eleição o candidato popular, no Chile está sendo elaborada uma nova Constituição com setores populares à frente, e na Bolívia vários golpistas estão sendo presos.
A nossa bandeira não
é verde-oliva. O Brasil não aguenta mais esse governo.
Afonso Costa é
jornalista.
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