ESTADÃO - Lauriberto Pompeu
© Gabriela
Biló/Estadão O presidente
Jair Bolsonaro chega ao Ministério da Defesa nesta quinta-feira, 22; à direita,
o general Braga Netto, titular da pasta
BRASÍLIA – Os
presidentes do PSDB, DEM, MDB, Solidariedade e PSD articulam a derrubada da
proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, defendida pelo governo. O movimento já existia há
algumas semanas, mas agora ganhou impulso, após a ameaça do ministro da
Defesa, Walter Braga Netto, de não haver
eleições em 2022 caso o Congresso não aprove o voto impresso, conforme revelou o Estadão.
Há outros partidos que são contra a PEC, mas esses são os que encabeçam a linha
de frente do movimento para adiantar a votação e rejeitar o texto.
A mobilização dos
partidos foi informada pela CNN e confirmada pelo Estadão. Na prática, os partidos se
mobilizam para evitar qualquer possibilidade de adiamento da comissão formada
para analisar o tema. A ideia é que a proposta seja votada logo na volta do
recesso legislativo, na primeira semana de agosto.
“O nosso trabalho é para rejeitar esse
absurdo”, disse o presidente do DEM, ACM Neto,
ao Estadão. “Essa coisa do
Braga Netto acaba reforçando a articulação contra (a PEC)”, declarou o
ex-prefeito de Salvador. “A gente vai fazer tudo para votar esse negócio do
voto impresso e derrubar logo na comissão”, completou o presidente do DEM.
Gilberto Kassab, presidente do PSD, é otimista e acredita que a mudança na forma de
verificar os votos não tem chance de passar na comissão. “Os partidos têm uma
posição consolidada e isso reflete na comissão, onde existe uma maioria para
manter o atual modelo de apuração”, declarou.
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Como mostrou
o Estadão, a Comissão
Especial da Câmara sobre o tema chegou a ter maioria de votos favoráveis para
aprovar voto impresso, mas presidentes de partidos e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)
agiram para trocar os integrantes da comissão e deixar o texto sem apoio
suficiente. No fim de junho, presidentes de 11 partidos fecharam um
posicionamento contra o voto impresso. Os caciques das legendas, incluindo os
da base do presidente Jair Bolsonaro no Congresso, decidiram derrubar a
proposta discutida na Câmara e patrocinada pelo chefe do Planalto.
Na semana passada,
deputados contra a PEC tentaram convocar o colegiado para rejeitar o texto, mas
o presidente da comissão, o deputado bolsonarista Paulo Eduardo Martins
(PSC-PR), adiou a votação com uma manobra regimental. “O presidente (da
comissão) fez uma manobra e não deixou votar. Se tivesse concluído a
votação, a gente tinha derrubado”, disse ACM Neto.
O presidente do
PSL, deputado Luciano Bivar (PE), também é
contra a ideia de acoplar na urna eletrônica um dispositivo que imprime o voto.
“É uma discussão absolutamente sem sentido. Não tem nada comprovado no
histórico recente de que tenha acontecido fraude no passado”, disse o
parlamentar.
‘Ameaça do Braga Netto aumentou a indisposição com a PEC’, diz deputado
O deputado Fábio
Trad (PSD-MS), integrante titular da comissão especial, afirmou que a
“orientação do partido é para rejeitar”. De acordo com ele, as ações do
ministro reforçam as articulações contra a ideia. “Esta ameaça do Braga Netto
aumentou a indisposição com a PEC”, declarou.
A proposta de
emenda à Constituição do voto impresso é uma das principais bandeiras políticas
do presidente Jair Bolsonaro, que já deu declarações consideradas golpistas ao
dizer que “ou fazemos eleições limpas ou não temos eleições”.
Bolsonaro afirma,
seguidamente, que sem esse mecanismo as eleições serão fraudadas. Ele também
repete, sem nunca ter apresentado qualquer prova, que teria vencido a eleição
de 2018 já no primeiro turno e que o deputado Aécio Neves (PSDB) venceu a
disputa de 2014, algo que o próprio tucano disse não acreditar.
Voto impresso auditável
O voto impresso já
foi implantado em caráter experimental nas eleições presidenciais de 2002 — e
acabou reprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Naquele ano, para testar o sistema, a medida foi adotada em 150 municípios,
atingindo 6,18% do eleitorado. “Sua introdução no processo de votação nada
agregou em termos de segurança ou transparência. Por outro lado, criou
problemas”, apontou um relatório do TSE.
O tribunal concluiu
que, nas seções com voto impresso, foram maiores o tamanho das filas e o
porcentual das urnas que apresentaram defeitos, além das falhas verificadas
apenas nas impressoras. “Houve incidência de casos de enredamento de papel,
possivelmente devido a umidade e dificuldades de manutenção do módulo impressor”,
apontou o relatório do TSE.
No Distrito
Federal, que adotou o voto impresso em todas as seções eleitorais em 2002, o
índice de quebra de urna eletrônica no primeiro turno foi de 5,30%, enquanto a
média nacional foi bem inferior: 1,41%.
EM TEMPO: Bozo está fragilizado interna e externamente. Portanto, é muito difícil dar um golpe sem apoio do governo Biden dos EUA. Afinal, Donald Trump perdeu as eleições por lá. Deste modo, a ameaça de Braga Netto não deixa de ser uma "bravata". Mas, devemos manter nossa mobilização contra o golpe.
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