FOLHA PRESS - JOELMIR TAVARES
seg., 10 de maio de 2021
***FOTO DE
ARQUIVO*** SÃO PAULO, SP, 10.09.2018 - O candidato à presidência pelo PSOL,
Guilherme Boulos, cumprimenta Luiza Erundina em encontro com um grupo de
mulheres durante ato de campanha no bairro da Bela Vista, centro de São Paulo.
(Foto: Nelson Antoine/Folhapress)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma ala
do PSOL lançará nesta segunda-feira (10) a pré-candidatura do deputado federal
Glauber Braga (RJ) à Presidência da República, ampliando a crise interna na
legenda, que se divide entre apresentar um nome próprio nas eleições de 2022 e
defender o apoio ao ex-presidente Lula (PT).
A deputada federal Luiza Erundina
(SP) é uma das signatárias do texto pró-Glauber, o que a distancia pelo menos
no debate sobre a corrida ao Planalto do ex-presidenciável Guilherme Boulos,
de quem a veterana parlamentar foi vice na disputa pela Prefeitura de São Paulo
em 2020.
Boulos, que chegou ao segundo turno
contra Bruno Covas (PSDB), mas foi derrotado pelo candidato à reeleição, vem
defendendo a união da esquerda no pleito do ano que vem e é tido como favorável
a um apoio do PSOL a Lula, embora evite antecipar essa discussão em público.
Como mostrou o jornal Folha de
S.Paulo em março, o líder de movimentos de moradia buscou ampliar seu espaço
dentro da sigla com a criação de uma corrente partidária própria. Boulos e o
presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, compõem a ala majoritária do
partido, que sinaliza avançar na aliança com o PT.
O ex-presidenciável anunciou no mês
passado que está disposto a concorrer ao Governo de São Paulo, afastando-se da
previsão de que tentaria a Presidência, como fez em 2018. Boulos, que é aliado
político e amigo de Lula, era dado como certo na disputa nacional antes da
reabilitação eleitoral do petista.
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A eventual adesão à candidatura petista
sofre resistência de filiados do PSOL que rejeitam a composição com partidos de
centro-direita e do centrão que têm sido procurados por Lula. Em seu esforço
para se vender como uma opção moderada, o petista admite dialogar com forças
liberais e conservadoras.
Surgido como dissidência do PT, o
PSOL fez oposição aos governos Lula e Dilma Rousseff. Desde sua fundação, em
2004, a legenda disputou todas as eleições nacionais, com Heloísa Helena
(2006), Plínio de Arruda Sampaio (2010), Luciana Genro (2014) e Boulos (2018).
O manifesto, que une Erundina e
outros filiados mais próximos de uma visão socialista, afirma que Glauber Braga
é o representante da sigla que pode sustentar debates "caros à esquerda e
à sociedade brasileira" diante da crise vivida sob o governo de Jair
Bolsonaro (sem partido).
"Devemos aprofundar o debate de
programa com uma agenda de discussão que organize as diretrizes do nosso
'programa/projeto'", diz o texto, que foi obtido pela reportagem e deverá
ser divulgado nesta segunda à noite. Na carta, são citados como eixos
desejáveis "derrotar o rentismo e o neoliberalismo", combater "o
modelo concentrador de terras e de destruição ambiental" e defender o
serviço público.
Braga é descrito no documento como
"parlamentar expressivo das bancadas de oposição no Congresso" que
pode representantar o campo progressista, "em diálogo a ser estabelecido
com outras forças políticas da oposição de esquerda ao governo Bolsonaro",
o que exclui a aproximação com a direita.
Os deputados federais Sâmia Bomfim
(SP), David Miranda (RJ), Fernanda Melchionna (RS) e Vivi Reis (PA) também
endossaram o manifesto. Com isso, a costura em apoio a Braga é ratificada por
seis dos dez parlamentares da legenda na Câmara.
Segundo os organizadores, a
articulação conta com a adesão de mais de mil filiados. A iniciativa teve ainda
o apoio de fundadores do partido, como a deputada estadual Luciana Genro (RS) e
o jornalista Milton Temer, e de parlamentares psolistas em Câmaras Municipais e
Assembleias de vários estados.
Dirigentes regionais e militantes e
ao menos 16 integrantes da direção nacional do PSOL também assinaram.
Boulos tem sustentado um discurso
semelhante ao de Lula e outros líderes da esquerda no sentido de que a
discussão sobre alianças e candidaturas em 2022 deve ocorrer mais adiante e que
primeiro é preciso unir forças para contornar as consequências da pandemia de
Covid-19 e do desemprego.
"A eleição pode ser discutida,
mas não pode ser prioridade agora, com milhares de mortes diárias e tantos
desafios, disse o psolista à Folha de S.Paulo em abril. Procurado via
assessoria nesta segunda, Boulos informou que não comentará a questão até o
congresso geral do PSOL, que definirá a posição oficial da sigla.
Em um encontro realizado em março, o
partido oficializou a orientação de que qualquer debate sobre o processo
eleitoral está interditado até a assembleia nacional, prevista para setembro
deste ano.
"Aceito a empreitada e me coloco
à disposição para essa tarefa, que obviamente ainda tem que ser debatida nas
instâncias do partido", afirma Glauber à reportagem. Para ele, o PSOL
precisa ter pré-candidato à Presidência e deve evitar que a discussão eleitoral
seja postergada para 2022.
Segundo o parlamentar, um dos
objetivos do movimento em torno de sua pré-candidatura é "a apresentação
de um programa público que não tenha medo de dizer que é de esquerda".
"Não cabe na nossa mesa a
direita liberal que se fantasia de centro, como [João] Doria, [Luciano] Huck, [Sergio]
Moro e [Rodrigo] Maia", diz, citando pré-candidatos e outros atores
políticos que defendem a construção de uma alternativa à virtual polarização
entre Bolsonaro e Lula.
Braga afirma ainda que, embora Boulos
fosse considerado um nome natural do PSOL para a eleição presidencial de 2022,
o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) deixou o páreo depois
que se declarou disposto a concorrer a governador de São Paulo.
"Boulos é uma liderança nacional
que tem todo o nosso respeito e apreço, mas ele tomou uma decisão pública de
ser pré-candidato ao Governo de São Paulo e vai colocar suas energias nessa
plataforma", diz, minimizando eventuais divergências e defendendo um
diálogo amplo.
Para o presidente nacional do
partido, as discussões são algo natural em véspera de ano eleitoral, mas a
diretriz de esperar o cenário político desanuviar continua vigente. "O
diretório nacional do PSOL decidiu que todo debate sobre tática eleitoral vai
ser organizado a partir do nosso congresso", afirma Medeiros.
"Considero inoportuno antecipar discussão
sobre candidatura própria no meio da guerra que estamos travando por vacina e
auxílio emergencial", completa o dirigente.
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