Yahoo Notícias,
ter., 23 de março de 2021
Médicos relatam que pacientes precisam de transplante de fígado pelo excesso de remédios sem função (Foto: Getty Images)
· Pelo menos cinco pacientes em SP
precisaram de transplante de fígado por uso de medicamentos do "kit
covid"
·
Dois pacientes tiveram casos
agudos da doença e morreram antes da operação
·
"Kit covid" é composto
pela cloroquina, azitromicina e ivermectina
Em 4 de fevereiro, durante uma live, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comentou o uso da
cloroquina no tratamento da covid-19. Segundo Bolsonaro, caso ficasse
comprovado que o medicamento não funciona, ele pediria desculpas. “Pelo menos eu não matei ninguém”, completou.
No entanto, o uso de cloroquina, azitromicina e ivermectina, ineficazes contra a covid, tem gerado problemas em pacientes. Segundo o Estadão, em São Paulo, cinco pacientes esperam na fila de transplante de fígado pelo uso dos remédios que compõe o “kit covid”. Médicos relatam que três pessoas morreram com hepatite causada pelos medicamentos. Os profissionais de saúde também têm observado pacientes com hemorragias, insuficiência renal e arritmias decorrentes do uso dos medicamentos do “kit covid”. Médicos relatam que, com o agravamento da pandemia de coronavírus no Brasil, a quantidade de pacientes que usam os remédios sem eficácia também aumentou.
Segundo o Estadão, quatro pacientes foram atendidos no Hospital das
Clínicas, da USP, e outro no HC da Unicamp. Segundo Luiz Carneiro
D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP e professor
da universidade, todos chegaram com a pele amarelada e com histórico de uso de
ivermectina e antibióticos.
“Quando fazemos os exames no fígado, vemos lesões compatíveis com hepatite medicamentosa. Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino”, relatou ao jornal. De acordo com o médico, entre os quatro pacientes colocados na fila para transplante, dois tiveram uma forma mais aguda da doença e morreram mesmo antes de serem operados.
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O presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso de cloroquina desde o início
da pandemia, mesmo sem qualquer comprovação de que era eficaz no tratamento. Com
o tempo, estudos mostraram a ineficácia do remédio.
"Pode ser que, lá na frente, falem que a chance é zero, que era um
placebo. Tudo bem, me desculpe, tchau. Pelo menos não matei ninguém",
afirmou o presidente. "Agora, se porventura mostrar eficácia, você que
criticou, parte da imprensa, vai ser responsabilizada. Pelo menos moralmente. E
aí? Vão continuar me chamando de genocida?", atacou em 4 de fevereiro.
Segundo dados do Conselho Federal de Farmácia, o aumento na venda de unidades de ivermectina de 2019 para 2020 foi de 557%. O mês com mais compras do remédio foi dezembro. Na realidade, o medicamento é indicado para o tratamento de sarna e piolho. O uso no tratamento para a covid foi desaconselhado pela Agênica Europeia de Medicamentos e pela própria farmacêutica, a Merck.
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