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| Foto: Andressa Anholete/Getty Images |
O GLOBO - Camila Zarur
qua.,
13 de janeiro de 2021 7:01 AM BRT·
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou sabotar as medidas para conter o contágio do novo coronavírus. Esse é o entendimento da organização internacional Humans Rights Watch (HRW) em seu relatório anual sobre os direitos humanos no mundo, divulgado nesta quarta-feira. Além da resposta à pandemia, o documento critica ainda a conduta do governo brasileiro em relação à preservação ambiental e às liberdades individuais:
“O governo Bolsonaro promoveu
políticas que contrariam os direitos das mulheres e os direitos das pessoas com
deficiência, atacou a mídia independente e organizações da sociedade civil, e
enfraqueceu os mecanismos de fiscalização da legislação ambiental, na prática
dando carta branca às redes criminosas envolvidas no desmatamento ilegal na
Amazônia e que ameaçam e atacam os defensores da floresta”, diz o relatório.
Em relação à Covid-19, a HRW
criticou a conduta que Bolsonaro teve ao longo de toda a crise sanitária —
desde as declarações que minimizavam a doença, chamando-a de “gripezinha”, até
a tentativa de impedir os estados de imporem o isolamento social, passando pela
troca de seus ministros da Saúde. No entanto, segundo a organização
internacional, os esforços do presidente foram frustrados pelas demais
instituições brasileiras.
— O presidente Bolsonaro expôs a
vida e a saúde dos brasileiros a grandes riscos ao tentar sabotar medidas de
proteção contra a propagação da Covid-19 — diz a diretora adjunta da HRW no
Brasil, Anna Livia Arida. — O Supremo Tribunal Federal e outras instituições se
empenharam em proteger os brasileiros e em barrar muitas, embora não todas, as políticas
antidireitos de Bolsonaro. Essas instituições precisam permanecer vigilantes.
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Populações afetadas
Até o momento, o coronavírus já
matou mais de 204 mil pessoas no Brasil e infectou outras 8,1 milhões. A
organização ressalta que a população negra teve maior probabilidade de ser
afetada pela doença e morrer em hospitais do que outros grupos raciais. Entre
os motivos para isso, o relatório cita as taxas mais altas de informalidade
entre trabalhadores negros, o que os impedia de trabalhar de casa, e a maior
prevalência de doenças preexistentes.
A Humans Rights Watch cita outras
duas populações impactadas pela Covid-19 e que foram alvos de tentativas do
governo federal de frear os esforços contra a pandemia: os povos indígenas e a
população carcerária.
De acordo com a Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil (Apib), mais de 44 mil casos do coronavírus foram
confirmados e houve 917 mortes pela doença. O número de etnias afetadas é de
161. A população é considerada mais vulnerável devido ao acesso insuficiente a
cuidados de saúde e à prevalência de doenças respiratórias ou crônicas. Ainda
assim, Bolsonaro vetou parcialmente um projeto de lei aprovado pelo Congresso,
em junho, que obrigava o governo a fornecer atendimento médico emergencial e
assistência à população indígena.
Em agosto, o Congresso derrubou
os vetos presidenciais. O STF também obrigou o governo a elaborar um plano de
enfretamento da Covid-19 para os indígenas.
Já em relação à população
carcerária, o presidente vetou, em julho, um artigo de um projeto de lei que
exigia o uso de máscaras em unidades prisionais e centro socioeducativos.
Segundo o último boletim do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de 23 de
dezembro, 129 mortes e mais 41 mil casos da Covid-19 foram confirmados entre
presos. Os agentes e servidores do sistema prisional também foram afetados:
mais de 12 mil foram infectados e 93 morreram.
Esse veto de Bolsonaro também foi
derrubado depois, desta vez pelo STF, que concluiu que ele não atendeu ao
trâmite processual e restabeleceu o artigo da lei.
Ataques ao meio ambiente
Pelo segundo ano seguido, a
Humans Right Watch critica a política ambiental de Bolsonaro, que segundo a
organização dá “carta branca às redes criminosas envolvidas no desmatamento
ilegal” ao enfraquecer a fiscalização de leis e multas, além de transferir
responsabilidades de órgãos de combate para Forças Armadas, que carecem de
experiência na área e de treinamento para evitar a destruição da fauna e da
flora brasileiras.
De acordo com o relatório, as
políticas do governo e a retórica do presidente contra a proteção do meio
ambiente “contribuíram com a destruição de cerca de 11.000 quilômetros
quadrados de floresta amazônica entre agosto de 2019 e julho de 2020 — a maior
taxa em 12 anos”. O documento afirma ainda que, no ano passado, o número de
focos de incêndio na Amazônia aumentou 16%.
Já no Pantanal, outro bioma
brasileiro afetado pelas queimadas, mais de um quarto de sua planície foi
destruída pelo fogo — a maior devastação em mais de duas décadas. De acordo com
a HRW, as queimadas são causadas intencionalmente, em grande parte de forma
ilegal, com o objetivo de suprimir a vegetação.
— As políticas do presidente
Bolsonaro têm sido um desastre para a floresta amazônica e para as pessoas que
a defendem — diz Arida, que continua: — Ele culpa indígenas, organizações não
governamentais e moradores pela destruição ambiental, em vez de agir contra as
redes criminosas que impulsionam a ilegalidade na Amazônia.

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