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Documentos traziam estratégias para
senador se defender no processo da "rachadinha", segundo revista.
Augusto Aras citou dificuldade de provar autenticidade de relatórios.
© picture alliance/AP Photo/E. Peres Ministra disse que fatos relatados podem indicar, em tese, diversos tipos de crime
A ministra Cármen
Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta sexta-feira (18/12)
que a Procuradoria-Geral da República investigue se a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) produziu relatórios com
informações e estratégias para o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente
Jair Bolsonaro, se defender no processo em que é acusado de receber parte do
salário de funcionários de seu gabinete, prática conhecida como "rachadinha".
Em sua decisão, a
ministra afirmou que os fatos, revelados pela revista Época,
"pelo menos em tese, podem configurar atos penal e administrativamente
relevantes (prevaricação, advocacia administrativa, violação de sigilo
funcional, crime de responsabilidade e improbidade administrativa)". Ela
atendeu a um pedido de ação proposta pelos partidos PSB e Rede
Sustentabilidade.
Os relatórios
mencionados pela Época, que teriam sido enviados em setembro para o
senador, relatam o funcionamento de uma suposta organização criminosa dentro da
Receita Federal para acessar ilegalmente dados fiscais de Flávio Bolsonaro, que
embasaram a abertura de inquérito para apurar a prática de
"rachadinha" na época em que ele era deputado estadual do Rio de
Janeiro, com o auxílio de Fabrício Queiroz. O senador foi denunciado em
novembro pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
A autenticidade dos
documentos foi confirmada à revista por uma advogada de Flávio Bolsonaro,
Luciana Pires, em 9 de dezembro. Ela também disse que o material havia sido
preparado pelo diretor-geral da Abin, com base em informações previamente
coletadas por ela e repassadas a ele durante uma reunião.
Segundo a Época,
os relatórios foram enviados por WhatsApp ao senador e não tinham o logo da
Abin.
Provas
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Na terça-feira (15/12), o procurador-geral da República, Augusto Aras, havia dito que os fatos narrados pela revista eram "graves", mas que faltavam provas para confirmar as acusações. "O fato em si narrado é grave, o que não temos são provas desses fatos, nós não trabalhamos com narrativas. Trabalhamos com fatos e provas", disse Aras em conversa com jornalistas na sede da PGR, em Brasília.
Ele também afirmou que o Ministério Público teria que fazer perguntas aos órgãos competentes, mas ficaria "à mercê" das respostas, e pediu que a imprensa enviasse os documentos para a investigação. "Sem os elementos ao menos indicados pela imprensa estaremos com dificuldade para fazer essas investigações, mas a imprensa contribuiria muito se fornecesse os elementos materiais", disse.
Governo nega
Ramagem é homem da confiança de Bolsonaro e chegou a ser nomeado em abril para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, ato suspenso pelo STF devido a indícios de desvio de finalidade por parte do presidente. A demissão do ex-diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo para que Ramagem assumisse o cargo foi o estopim da saída do governo do então ministro da Justiça, Sergio Moro, que acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente no órgão.
Em nota à imprensa, a Abin afirmou que os relatórios mencionados pela revista têm trechos mal redigidos, "com linguajar atécnico que não guarda relação com a Atividade de Inteligência", e que não existe "Abin Paralela" ou "Abin Clandestina" em sua estrutura. "As acusações se pautam em torpe narrativa, desprovida de conjunto probatório, supostamente contida em documentos que não foram produzidos pela Agência", disse na nota.
O ministro do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, também negou
ter preparado documentos nesse sentido e disse que a ação proposta pelo PSB e
pela Rede teriam o objetivo de atingir a honra das pessoas citadas pela
revista.
"O suposto ato
ilegal (...) baseia-se integralmente na narrativa fantasiosa de um jornalista
que, frequentemente, exorbita do seu direito de expressão, imputando, sem
provas, condutas abusivas a autoridades públicas, sem nenhuma responsabilidade
com a verdade dos fatos", afirmou Heleno ao STF.
Ele admitiu, no
entanto, ter participado de uma reunião em agosto com o presidente Jair
Bolsonaro, Ramagem e a defesa do senador para discutir o processo da
"rachadinha".
BL/ots
EM TEMPO: Mais uma trapalhada do governo Bolsonaro.
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