ESTADÃO - Jussara Soares e Emilly Behnke
BRASÍLIA - Após forte reação contrária, o governo Jair Bolsonaro decidiu nesta quarta-feira, 28, revogar o decreto que autoriza estudos para conceder as Unidades Básicas de Saúde (UBS) à iniciativa privada. A medida foi vista como o início da privatização do Sistema Único de Saúde (SUS). Diante das criticas, o Palácio do Planalto recuou e admitiu que o texto estava equivocado.
© Gabriela
Biló/Estadão Decreto de
Bolsonaro que libera estudos sobre privatização em unidades de saúde foi
assinado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes
Internamente, segundo o Estadão apurou, a falha no decreto foi atribuída à ausência de alinhamento entre os ministérios da Economia e da Saúde.
A determinação
agora é que o texto seja revisto. A revogação será publicada em edição extra
do Diário Oficial da União. Bolsonaro confirmou a revogação do
decreto no Facebook, mas defendeu a proposta. "Temos atualmente mais de
4.000 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 168 Unidades de Pronto Atendimento
(UPA) inacabadas. Faltam recursos financeiros para conclusão das obras,
aquisição de equipamentos e contratação de pessoal", destacou. Na
publicação, ele se referiu ao caso como a "o SUS e sua falsa
privatização".
Bolsonaro ainda
afirmou que o espírito do decreto tinha como objetivo o "término dessas
obras, bem como permitir aos usuários buscar a rede privada com despesas pagas
pela União". “A simples leitura do decreto em momento algum sinalizava
para a privatização do SUS. Em havendo entendimento futuro dos benefícios
propostos pelo decreto o mesmo poderá ser reeditado", escreveu o
presidente.
Segundo o decreto,
assinado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, os estudos sobre as UBS
deverim avaliar "alternativas de parcerias com a iniciativa privada para a
construção, a modernização e a operação de Unidades Básicas de Saúde dos
Estados, do Distrito Federal e dos municípios".
Além disso, o
decreto dizia que a finalidade dos estudos será a "estruturação de
projetos pilotos". Em nota, o Ministério da Economia afirmou que o "principal
ponto do projeto é encontrar soluções para a quantidade significativa de
Unidades Básicas de Saúde inconclusas ou que não estão em operação no
País". Além disso, a pasta afirma que o PPI irá trabalhar com o Ministério da Saúde e o BNDES na definição de diretrizes
e na seleção de "municípios ou consórcios públicos" interessados.
Em nota divulgada
pouco antes do anúncio da revogação do decreto, o Ministério da Economia
afirmou que as UBSs "seguirão sendo 100% gratuitos para a população".
Ainda de acordo com a pasta de Paulo Guedes, as obras inacabadas consumiram R$
1,7 bilhão de recursos do SUS.
Ao menos oito
projetos de decreto legislativo (PDL) - medida capaz de sustar a decisão
presidencial - foram apresentados no Congresso desde a publicação da decisão do
governo na manhã de terça, 27, até o início da tarde desta quarta-feira. Os
pedidos são assinados pelo PT, PSB, PSOL, Rede, Cidadania e PCdoB, esse último
com a assinatura do deputado Márcio Jerry (MA), coordenador da Frente
Parlamentar do Sistema Único de Saúde (SUS). Para as legendas, a medida é o
sinal do início de uma privatização da rede./
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