Milton Pinheiro
CONTRAPODER
Em 1927, o Brasil
vivia numa conjuntura de avanço das lutas políticas. No final do ano anterior,
por exaustão, o decreto do estado de sítio havia caducado. O PCB crescia e
apresentava-se para o debate político com mais militantes e aprofundava uma
resolução que construiria o Bloco Operário, posteriormente articulado como
Bloco Operário e Camponês (BOC). Essa política organizativa de Frente Única
permitia que o partido abrisse um conjunto forte de articulações políticas,
inclusive aproximando-se do então deputado Azevedo Lima, que viria depois a ser
novamente deputado pelo Bloco.
Nesse mesmo ano, o
partido manteve entendimentos com o professor de direito Leônidas Rezende, que
era dono do recém fundado jornal diário A Nação, para ocupar um espaço na
comunicação com os trabalhadores e anunciar sua linha política e perspectiva
teórica.
No começo de 1927,
seguindo o planejamento estratégico interno, Astrojildo Pereira convida o jovem
pernambucano, estudante de medicina no Rio de Janeiro, militante do partido,
Leôncio Basbaum, que ao sair do Recife havia passado por Salvador e tinha conhecimento
da vida partidária nessas cidades, para debater a situação do partido no
Nordeste. Apesar da parca idade, a partir daí o jovem estudante estaria sempre
presente nas reuniões da Comissão Central Executiva (CCE).
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Em uma dessas
reuniões, decidiu-se que o estudante seria o encarregado do setor juvenil, com
a tarefa de organizar a Juventude Comunista. Com essa tarefa e função, Leôncio
Basbaum foi incorporado à Comissão Central Executiva e se dedicou à formação da
juventude. Logo de início, foi criada uma seção de correspondências que se
tornou o canal de articulação da juventude no jornal A Nação. Essa
correspondência era respondida por Leôncio Basbaum e possibilitou uma grande
aproximação de jovens trabalhadores de várias partes do Brasil com o setor juvenil
e com o partido.
No primeiro de maio
de 1927, jovens do partido apresentaram-se com faixas e bandeiras específicas,
tendo, inclusive, um orador no ato político do dia dos trabalhadores que foi
Schecheter. Essa manifestação consta nos estudos históricos como uma ação que
marcou a necessidade de se organizar, de forma mais rápida, a Juventude
Comunista. Sendo assim, foi marcado o ato público de fundação da UJC.
No dia primeiro de
agosto de 1927, na sede da UTG (União dos Trabalhadores Gráficos), na cidade do
Rio de Janeiro, na Rua Frei Caneca que fica na esquina da Praça da República,
foi lançada a Juventude Comunista. Muitos jovens estavam presentes e a direção
do partido. Foi um ato político e festivo no qual quem mais se destacou foi o
jovem metalúrgico de 17 anos, Jaime Ferreira, que foi um dos oradores. No dia 2
de agosto, era eleita a primeira direção da Juventude Comunista. Era composta
por 03 estudantes (Leôncio Basbaum, Artur e Manuel) e 05 operários (Pedro
Magalhães, Elísio, Jaime Ferreira, Altamiro e Brasilino). Basbaum foi eleito
secretário-geral, e no decorrer de 1928 passou a integrar, também, a direção da
juventude o jovem Arlindo Pinho.
A Juventude Comunista
tinha uma composição social marcada por mais de 90% de jovens operários, sempre
entre 15 e 19 anos. Na época, o estatuto do partido indicava que quem
completasse 21 anos seria transferido para o partido. A juventude começou suas
atividades com ações de recrutamento de jovens nas fábricas, no comércio e na
universidade, desenvolvendo atividades esportivas, fazendo festinhas,
desenvolvendo propaganda das ideias marxistas e preparando a juventude para o
partido. A UJC referenciava-se na forma organizativa do partido, com células e
Comitês Regionais. Ainda em 1928, a juventude estava organizada em vários
estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e
Pernambuco.
Após a formação da
juventude, foi lançado um jornal, O Jovem Proletário. O trabalho do partido na
base dos trabalhadores avançava, existia uma presença importante nos principais
sindicatos do Rio de Janeiro e a UJC era um braço importante nessa ação. Em
1927, por convite da KIM (Internacional Comunista da Juventude), a juventude
brasileira teve direito a uma bolsa para a Escola de Quadros, em Moscou. Após
discussão na direção da juventude, optou-se por enviar o jovem alfaiate Heitor
Ferreira Lima.
O debate sobre um
chamamento a Luiz Carlos Prestes para dialogar com o partido, em 1927, gerou
uma polêmica muito intensa na direção do partido e, também, na direção da
juventude. Esse fato provocou saídas no partido e na juventude. Nesse episódio,
por discordar da proposta aprovada, de conversar com Prestes, desligaram-se do
partido o fundador Joaquim Barbosa e o jornalista, Rodolfo Coutinho.
Em 1928, em virtude
do VI Congresso da Internacional Comunista, em Moscou, a juventude recebeu um
convite, também, para participar do V Congresso da KIM (Internacional Comunista
da Juventude). Foi destacado como representante da juventude o Leôncio Basbaum
que viajou para a URSS com o Paulo Lacerda que comandaria a delegação
brasileira.
No entanto, ainda em
1928 e 1929, em virtude da nova orientação da Internacional Comunista, que
abandonava a política de Frente Única para construir a nova orientação de
“Classe contra Classe”, surgiram problemas internos e defecções ocorreram no
partido e na juventude. O partido estava, novamente, na ilegalidade.
Basbaum havia sido
preso por uma semana no começo de 1928 juntamente com outros jovens comunistas.
Ele dirigiria a juventude até 1929, quando do I Congresso e do seu retorno ao
partido. A juventude enfrentaria muitos problemas na conjuntura do governo
Vargas, foi preservada pelo partido em alguns momentos e retornou apenas em
1946, agora, composta basicamente por estudantes.
A UJC operou na defesa
dos interesses da juventude e da linha política do partido durante toda sua
história. Em algumas conjunturas, o partido considerou mais correto encerrar as
suas atividades para defendê-la da exceção conjuntural, em outras, serviu como
braço político para o enfrentamento na luta de classes. Ela foi importante nas
lutas pelas liberdades democráticas e em diversas campanhas que o PCB esteve
organizando. Esteve presente na formação da UNE, no entanto, em virtude da
conjuntura, foi desarticulada nos anos 1960, embora existisse um setor
encarregado desse trabalho. Retornou em 1985, novamente foi desarticulada
durante a luta interna que ocorreu a partir do IX Congresso do PCB, contudo, em
1994 ela foi reconstruída e exerceu importante função na rearticulação internacional
do partido nos anos 1990. Passou por um período de desarticulação no começo dos
anos 2000 e ressurge, Finalmente, como forma histórica, em 2005, e hoje está
presente de forma organizada em todo o Brasil.
Ao regatar a memória
histórica de seu fundador, Leôncio Basbaum, nascido em Recife no dia 06 de
novembro de 1907 e falecido em São Paulo, em 07 de março de 1969, ressaltamos o
extraordinário pensador, médico, historiador e dirigente comunista: um
militante da revolução brasileira. Podemos afirmar, nos 93 anos da UJC, que
essa legenda comunista está mais do que nunca presente na história das lutas em
defesa da nossa classe, como operador político na história do tempo presente
quando construiu um legado vivo na saga pela revolução brasileira.
Viva Leôncio Basbaum!
Viva a UJC!
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