EL PAÍS - Felipe Betim
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PAÍS Zezico Rodrigues Guajajara,
liderança da TI Arariboia e diretor do Centro de Educação Escolar Azuru.
Uma liderança indígena da etnia Guajajara foi
assassinada a tiros nesta terça-feira no Maranhão, segundo confirmou o Conselho
Indigenista Missionário (Cimi). Zezico Rodrigues Guajajara era um
dos líderes da Terra Indígena Araribóia, diretor do Centro de Educação Escolar
Indígena Azuru e professor há 23 anos. Seu corpo foi encontrado na estrada da
Matinha, próximo à sua aldeia, Zutiwa, no município de Arame.
Em nota publicada
no Twitter, o governador Flávio Dino (PCdoB) lamentou a morte e
garantiu que a Secretária de Segurança já entrou em contato com a Polícia
Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF). “Reiteramos que Governo do
Estado está à disposição para auxiliar governo federal na segurança a indígenas
em suas terras”, afirmou. Um equipe da Polícia Civil foi enviada à região.
O assassinato de
Zezico ocorre em meio à escalada de violência contra os indígena no Maranhão
nos últimos meses.
O líder local Paulino Guajajara, membro grupo “Guardiões da
Floresta”, formado para proteger o território contra madeireiros ilegais, também foi assassinado a tiros em
primeiro de novembro de 2019. Ele voltava de um dia de caça acompanhado de
outra liderança, Laércio Guajajara, que tomou tiros nos braços e nas costas e
conseguiu fugir do ataque. Após novas ameaças, Laércio teve de deixar a aldeia
e ir morar em um local não divulgado sob orientação do Programa de Proteção aos
Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal. Com isso, Zezico se tornou a
principal voz de denúncia sobre os ataques de madeireiros ilegais na região
—sua aldeia era um dos principais alvos de queimadas criminosas.
De acordo com o colunista do UOL Rubens Valente, a Fundação Nacional do
Índio (Funai) já havia sido notificada em janeiro que Zezico teria sido
ameaçado por outros indígenas da região. Em carta assinada por ele e outras
pessoas, pedia-se o apoio da Funai para que conseguissem um veículo e fossem à
Polícia Federal de Imperatriz, no Maranhão, registrar um Boletim de Ocorrência.
Ainda segundo Valente, o documento dizia o seguinte: “No dia 15/01/2020, um
grupo de indígenas da mesma aldeia foram até a residência do sr. liderança,
Zezico Rodrigues Guajajara. Os quais foram armados para cometer crimes de
homicídio contra a liderança. Na ocasião um deles sacou de uma faca para tentar
esfaquear um dos líderes de jovens e um jovem que tentou defender o outro.
Sendo que essas ameaças já vinham sendo anunciadas há dias pelos mesmos, tanto
contra o líder Zezico, como contra atuais lideranças, onde afirmam que enquanto
não praticarem o assassinato não descansarão". Outros dois
indígenas da mesma etnia, Raimundo e Firmino Guajajara, também foram assassinatos no dia 7
de dezembro de 2019. O crime ocorreu no município de Jenipapo dos
Vieira, Maranhão, às margens da rodovia BR-226, entre as aldeias Boa Vista e El
Betel, e a 506 quilômetros ao sul da capital São Luís. Na ocasião, outras
quatro pessoas ficaram feridas. Outros Guajajara chegaram a bloquear a pista em
protesto.
A escalada de
violência contra os indígenas no Maranhão fez com que o governador Flavio Dino
(PCdoB) criasse por decreto, ainda no início de novembro, a Força Tarefa de
Proteção à Vida Indígena (FT-VIDA), “para auxiliar os órgãos federais em
dificuldades e para atender emergências em terras indígenas”, segundo explicou
na ocasião.
Reiteramos
que governo do Estado está à disposição para auxiliar governo federal na
segurança a indígenas em suas terras. Secretaria de Segurança já realizou as
comunicações à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal sobre mais um
homicídio, o qual lamentamos profundamente
O presidente Jair
Bolsonaro se elegeu em 2018 afirmando que não permitiria novas
reservas indígenas e, desde que assumiu, vem defendendo a
exploração de recursos minerais em suas terras. Seu discurso com relação ao
desmatamento e à exploração das riquezas naturais da Amazônia é visto por
especialistas e ambientalistas no aumento do desmatamento e dos incêndios neste
ano.
A maior parte da destruição se deu justamente em terras indígenas e
reservas naturais protegidas, segundo indicam os dados. Essas terras são
ambicionadas por madeireiros e grileiros, movidos pelas promessas do Governo de
fazer uma regularização fundiária na região, o que poderia resultar também na
legalização das áreas invadidas de forma criminosa.
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