domingo, 12 de abril de 2020

'Bolsonaro é aliado do vírus', diz prefeito de Manaus

Foto: Agência Brasil

12 de abril de 2020

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao combate à pandemia de covid-19. Segundo ele, o chefe do Executivo "é, hoje, o principal aliado" do novo coronavírus.

"O que é extremamente surpreendente nesta crise é o comportamento do presidente Bolsonaro. Ninguém imaginou que o presidente fosse desafiar o coronavírus. Às vezes me dá até a impressão de que o Bolsonaro já deve ter tido levemente a doença. Está imunizado e pode andar por onde quiser. Ele se esquece de que as pessoas que ele cumprimenta não estão imunizadas. Como ele tem influência no país, é sem dúvida um líder político, causa um grande espanto", analisou Virgílio em entrevista ao portal UOL.
"As convocações que o presidente faz para as pessoas saírem do isolamento fortalecem o vírus, enfraquecem Manaus. O presidente Bolsonaro é, hoje, o principal aliado do vírus. Todos os que pensavam como ele no mundo mudaram de ideia. Líderes como Boris Johnson e Donald Trump voltaram atrás e se recolocaram na posição correta, reconhecendo a gravidade da pandemia. Bolsonaro insiste no erro. Ele poderia ter retroagido. Deveria ter sido mais humilde. Poderia pedir desculpas. Poderia ter feito qualquer coisa, menos insistir numa tese que já não é defendida por nenhum dirigente de país da importância do Brasil para cima", prosseguiu Virgílio.
De acordo com o prefeito de Manaus, o sistema de saúde na cidade já entrou em colapso, e o comportamento do presidente contribuiu para acelerar a propagação do novo coronavírus.
"Nós estávamos com uma adesão superior a 70% ao isolamento horizontal. As pessoas estavam recolhidas às suas casas. Havia uma enorme calmaria. Quando o presidente Bolsonaro se contrapôs a isso, as pessoas começaram a tentar enxergar alguma lógica na posição dele. Muitos voltaram às ruas. E a adesão caiu para pouco mais de 50%. Hoje, as pessoas estão insistentemente fora de casa. A situação ficou pior depois que o presidente começou a sair sucessivamente às ruas, numa campanha contra o isolamento. Ele não usa máscara, cumprimenta as pessoas, promove aglomerações. Faz tudo o que o ministro Mandetta afirma, em sucessivas horas de entrevistas, que não se deve fazer", criticou.
Virgílio também disse não acreditar que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, permanecerá no cargo por "ciúme" de Bolsonaro.
"O ministro revelou-se bastante operacional na crise. Ficou popular. De repente, surgem as diatribes presidenciais. Por ciúmes, o presidente começa a desmerecer o Mandetta. Ele deveria assumir o papel de chefe do Mandetta, capitalizando os méritos do seu ministro. Do modo como estão as coisas, não sei até onde o ministro resistirá", projetou o prefeito de Manaus.


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