CAROLINA LINHARES
Folhapresshá
10 horas
**ARQUIVO** SÃO PAULO, SP, 10.03.2020 - Guilherme Boulos. (Foto: Ian
Maenfeld/Folhapress)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após se lançar para as
prévias do PSOL para a Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, 37, que
terminou a eleição presidencial de 2018 com 0,58% dos votos, diz que a esquerda
não pode "ficar apenas esperando o que Lula vai dizer ou fazer".
"O projeto político do Lula segue sendo o fortalecimento do PT."
Boulos afirma que o PSOL não vai ceder a
candidatura para apoiar o PT no primeiro turno na capital paulista. "O
PSOL vai ter candidatura própria e não aceitaria qualquer tipo de
imposição", diz.
Os petistas, que devem apoiar Marcelo Freixo (PSOL)
no Rio de Janeiro, esperavam receber o gesto do PSOL em São Paulo. O partido de
Lula, porém, ainda não tem um candidato definido na cidade prévias estão
marcadas para 22 de março. O ex-prefeito Fernando Haddad, nome favorito,
resiste a concorrer.
Em entrevista à reportagem, Boulos nega que tenha
lançado sua pré-candidatura por causa da desistência de Haddad.
O líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto) terá Luiza Erundina (PSOL), que foi prefeita de São Paulo nos anos 1990,
como vice. Ele concorre às prévias do partido contra os deputados Sâmia Bomfim
e Carlos Giannazi a definição sai em 5 de abril.
Boulos diz ainda que o MTST vai intensificar suas
mobilizações, defende as manifestações contra Jair Bolsonaro nas ruas e fala
sobre o ato de oposição marcado para 18 de março.
Para ele, é preferível a cassação do presidente via
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) do que um impeachment, que não mobiliza hoje
a maioria no Congresso.
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ANÚNCIO DA PRÉ-CANDIDATURA VERSUS APOIO AO PT
"Minha pré-candidatura nunca dependeu da
posição do Haddad, do PT ou de qualquer outro partido. O PSOL tem condições de
ter um projeto próprio em São Paulo, que compatibilize a defesa da unidade da
oposição a Bolsonaro, mas com renovação, com um projeto de direito à cidade,
uma cidade radicalmente democrática. Está consolidada a candidatura própria do
PSOL em São Paulo. Respeito a Sâmia e o Giannazi, são deputados que fazem
mandatos combativos, mas, junto com a Erundina, vamos disputar para ser
candidato do PSOL.
Eu sou um dos maiores defensores da unidade da
esquerda. Mas unidade não se faz com imposição e nem com troca olhando um mapa.
O apoio ao Freixo no Rio se construiu nos últimos anos. Cada cidade tem uma
realidade, e São Paulo não está dando condições para uma unidade no primeiro
turno. Espero que no segundo turno a gente esteja junto, independentemente de
qual candidatura de esquerda esteja lá. O PSOL vai ter candidatura própria e
não aceitaria qualquer tipo de imposição."
CENÁRIO ELEITORAL E CHANCES DA ESQUERDA
"Ainda tem uma indefinição muito grande nos
nomes [dos candidatos em SP]. Não se sabe, por exemplo, quem vai ser o
candidato do bolsonarismo. Um dos grandes temas dessa eleição é fazer o
enfrentamento ao bolsonarismo. Essa eleição municipal vai ter também uma
dimensão nacional. Vai ser um termômetro.
Nós queremos fazer de São Paulo a capital da
resistência ao bolsonarismo. E também enfrentar Doria [governador de São Paulo,
do PSDB]. Bruno [Covas, prefeito de SP, do PSDB] é a continuidade do projeto do
Doria.
A esquerda tem o desafio de se reinventar, de
voltar a ser alternativa de futuro, de voltar a despertar a esperança nas
pessoas. Acho que a esquerda tem condição de vencer. A aprovação do Bolsonaro
hoje é muito menor. Não se vive de bravata. Ele governa como um miliciano
vigarista, mas a escalada dele, de discurso autoritário e de estimular o ódio,
não enche a barriga das pessoas."
COMO SERIA UM GOVERNO SOCIALISTA NA PREFEITURA
"Socialismo não é socialização da miséria, é a
distribuição das riquezas. Quando a gente fala que nenhuma pessoa pode ficar
sem casa, estamos dizendo que os 25 mil moradores de rua não têm que dividir
quarto com você, mas têm que poder morar nos milhares de imóveis que estão
abandonados. Isso inclusive está previsto na lei. Uma gestão nossa vai
desapropriar esses imóveis ociosos no centro para sem-teto morar.
Mais que isso, enfrentar as máfias que governam a
cidade. É preciso ter coragem, não pode ter rabo preso. A máfia do ônibus, dos
transportes. Vamos rever esses contratos e discutir municipalização do
transporte e tarifa zero. Enfrentar as máfias das OSs [Organizações Sociais] e
do lixo.
Isso deve ser feito com a mobilização da sociedade
pelos seus direitos. Erundina mostrou um caminho, governou quatro anos sem ter
maioria na Câmara. É uma demonstração de que se pode fazer um governo popular
apostando na participação do povo, não dependendo das máfias incrustadas no
Executivo e no Legislativo."
MANIFESTAÇÕES A FAVOR DE BOLSONARO E CONTRA ELE
"Temos uma escalada muito perigosa do
autoritarismo. O Bolsonaro dobra a aposta a cada vez que o governo dele é mais
incapaz de responder aos problemas da vida do povo. A política do Guedes é
muito mais letal do que o coronavírus para o povo brasileiro. O dia 15 é uma
expressão disso. O Bolsonaro quer radicalizar a sua tropa.
Não que a gente defenda Rodrigo Maia, que é
parceiro do Bolsonaro para implementar a agenda neoliberal que tem dilapidado
direitos. Uma parte importante desse Congresso é denunciada por corrupção e
muitos são corruptos. Se trata de combater a ideia do Bolsonaro de que ele é o
dono do país.
Já passou da hora de a gente construir uma resposta
mais forte nas ruas. E por isso a mobilização do dia 18, que a princípio era a
favor dos serviços públicos e dos direitos, também ganhou outra conotação, com
mote "Ditadura Nunca Mais". Boa parte da sociedade começa a perceber
o que está em jogo. Temos condição de reaquecer as ruas num movimento contra
Bolsonaro.
Em São Paulo temos visto, junto com desmonte do
investimento público e dos programas sociais, um completo desrespeito aos
direitos básicos. Uma construtora quer fazer um condomínio para classe média no
meio das terras indígenas. Tem o aumento brutal de 66% da população de rua.
Isso vai gerar intensificação das mobilizações. A resistência indígena está
acontecendo agora [referência à disputa entre índios guarani e construtora no
Jaraguá], mas também o MTST vai intensificar as mobilizações nos próximos
meses."
MOBILIZAÇÃO POR IMPEACHMENT
"Não estou entre aqueles que acham que
Bolsonaro tem que ir até 2022 para sangrar, que colocam o cálculo eleitoral
acima de um cálculo do que está acontecendo com o país. Acho que ele já cometeu
vários crimes de responsabilidade, mas um movimento de impeachment tem que
ocorrer com correlação de forças para ser vitorioso.
O que precisaria estar em debate no momento é que o
TSE tome vergonha e retire da gaveta a denúncia de crime eleitoral da chapa
Bolsonaro-Mourão, motivada pela reportagem da Patrícia Campos Mello [da Folha].
Ali tinham vários crimes eleitorais: financiamento empresarial de campanha,
caixa dois, uso de fake news e violação das regras de uso das redes sociais. O
caminho mais forte é esse."
LULA PÓS-PRISÃO
"Tenho respeito pelo Lula, alguém que ficou
preso injustamente num processo fraudado. O projeto político do Lula segue
sendo o fortalecimento do PT. Muita gente fica apenas esperando o que Lula vai
dizer ou fazer, e a esquerda brasileira não pode depender disso.
Logo depois que ele saiu, vi uma certa histeria de
gente dizendo: ele polarizou, são duas faces da mesma moeda a esquerda e o
bolsonarismo. Nada mais falso. Querer equiparar um discurso que defende
enfrentamento a Bolsonaro e que o povo vá às ruas com a desagregação
institucional que Bolsonaro está promovendo. O que as pessoas esperam? Que
tenha um governo selvagem de um lado e uma oposição dócil e bem comportada do
outro? O mínimo que a oposição pode fazer diante de Bolsonaro é elevar o tom e
levar o enfrentamento para as ruas dos país.
Como as pessoas querem cobrar moderação com um
presidente que está destruindo o Brasil, rasgando a Constituição de 1988 e
liquidando qualquer ambiente democrático?"
ALIANÇA DEMOCRÁTICA COM O CENTRO
"Uma coisa são unidades em torno de pautas
democráticas, liberdade de imprensa, liberdade de manifestação, defesa das
instituições democráticas. Uma articulação dessa cabem todos, inclusive gente
que teve trajetória na direita. A questão é que as pessoas querem confundir
isso com unidade eleitoral. Aí começa a falar em chapa com Luciano Huck. Pera
lá. Uma coisa é estar junto com quem quer que seja para defender a democracia.
Sou defensor, já passou da hora de ter articulações mais fortes contra o
fascismo.
E tem uma parte das pessoas que vão estar com a
gente na defesa da democracia, mas que estão apoiando todas as medidas do
Bolsonaro que destroem a vida do povo. É natural ter articulação contra a
reforma da Previdência e não vai estar o Rodrigo Maia, né? Contra a carteira
verde e amarela, contra a política econômica do Guedes. É um pacto que a
esquerda tem que fazer não com o centro, mas com o povo. Estamos empenhados em
construir as duas coisas."
EM TEMPO: É verdade que não se deve esperar por Lula, mas é preciso considerar que é o único político brasileiro que mobiliza as massas é o próprio.
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