SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Morando em Portugal
por causa das gravações da novela para TVI, Lucélia Santos, 62, afirmou que tem
muita admiração por Regina Duarte, mas que não será bom para a atriz participar
da gestão de Jair Bolsonaro. Ela disse ainda que Regina mudou seus
valores de décadas passadas e que hoje a preocupação dela é voltada ao agronegócio
e menos às artes.
Regina Duarte vai assumir o comando da
Secretaria Especial da Cultura, após a queda do dramaturgo Roberto Alvim,
demitido por ter copiado frases do nazista Joseph Goebbels em um
pronunciamento oficial.
"Regina assumiu uma pasta de Cultura que está
completamente intoxicada pelos últimos acontecimentos que vieram pelo Roberto
Alvim, que já surpreendeu a classe artística, porque tinha um histórico de ser
um histórico de ser um intelectual importante. (...) Ele era respeitadíssimo
pela classe artística e, de repente, apareceu esse monstro nazista parodiando
Goebbels", disse Santos, em entrevista ao programa Conexão Lisboa, da
TV 247, na noite desta sexta (31).
Lucélia Santos afirmou que o governo Bolsonaro,
desde a sua campanha, usa uma tônica neofascista, misógina e de ódio às
mulheres. "Para esse governo dar porrada em mulher é razoável. As
mulheres devem ser mesmo estupradas, só não as feias. É tudo assim em um nível
tóxico que é extremamente importante de ser revisto aqui antes de chegar a
Cultura. Vem aí a perseguição aos gays, as pessoas que são trans, aos negros e
a todas as pessoas que são diferentes da sociedade branca, que ele não gosta
muito. É muito semelhante ao que havia de ambiente durante o nazismo."
A atriz afirmou ainda que Bolsonaro não
poupa ninguém de dizer o que ele pensa. "Ele escreve no Twitter. Ele e os
filhos deles dizem claramente no Twitter. (...) Essas são as ideias do nosso
presidente. As pessoas que o seguem, eu parto do princípio de que
concordam com ele. Votarem nele, porque tem empatia por esse ideário, com esse
projeto. "
"O que acontece num contexto fascista e
autoritário. A primeira coisa que eles querem exterminar é a Cultura, porque é
a Cultura que tira as pessoas de uma situação de seres lesados para um certo
despertar, porque a Cultura é livre e tem que ser livre. A Cultura tem que se
expressar na sua potencialidade em todos os níveis. E a Cultura não se prende,
não se pode aprisionar a Cultura, não se pode escravizar a Cultura", diz a
atriz sobre a forma pela qual o governo federal trata a cultura
brasileira.
Santos diz que Regina Duarte é uma atriz
importantíssima, que tem "uma história na televisão e no teatro
brasileiro". "É uma pessoa importante para as artes e para a Cultura
brasileira." Porém, diz a atriz, "Regina foi ficando cada vez mais
comprometida com certos valores e o que ela defende agora é o
agronegócio".
"Regina Duarte não é mais uma pessoa tão
comprometida com as artes quanto ela é com o agronegócio, ela se juntou
ao Bolsonaro na campanha, foi à avenida Paulista gritar que
tinham mesmo que entrar na Amazônia e deixar o gado e deixar as máquinas
entrarem para proliferação de monocultura. Ela é uma mulher que
defende o agronegócio", diz a atriz.
"Ai se explica a aproximação dela dessa
ideologia de Bolsonaro. Ela tem empatia por Bolsonaro e
o Bolsonaro tem empatia por ela. Isso é uma associação nefasta, isso não
vai ser bom para a Regina. Quem mais tem a perder, além do Brasil, é ela
própria. Eu não sei o que ela vai conseguir fazer para virar esse
jogo. Como Regina Duarte vai conseguir reverter esses
valores? Ela está interessada em reverter esses valores? Bolsonaro vai
permitir que ela o faça?", completa.
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