O ministro Celso de Mello, durante sessão do STF |
Carolina Brígido e Daniel Gullino,
Extra
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal
Federal (STF), afirmou nesta quarta-feira que a divulgação, pelo presidente
Jair Bolsonaro, de um vídeo convocando para manifestações contra o Congresso e
o Supremo Tribunal Federal (STF), "se realmente confirmada",
demonstra "uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo
que exerce".
Em nota, Celso de Mello afirmou que Bolsonaro
"desconhece o valor da ordem constitucional" e "ignora o sentido
fundamental da separação de poderes". A divulgação do vídeo, segundo o
ministro, "traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação
do princípio democrático".
Celso de Mello anda afirmou que o presidente da
República, "qualquer que ele seja, embora possa muito, não pode tudo"
e ressaltou que desrespeitar a Constituição significa "incidir em crime de
responsabilidade".
Na terça-feira, Bolsonaro compartilhou por WhatsApp
um vídeo convocando para os atos, marcados para o dia 15 de março. Amigo do
presidente, o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) confirmou ao GLOBO ter
recebido o vídeo de Bolsonaro. Na manhã desta quarta, sem fazer referência
direta ao episódo, o presidente disse que as mensagens trocadas com amigos pelo
celular são "de cunho pessoal".
Outro ministro do STF, Gilmar Mendes afirmou, em
texto publicado em sua conta no Twitter, que "a harmonia e o respeito
mútuo entre os Poderes são pilares do Estado de Direito". De acordo com
Gilmar, que não fez referência a Bolsonaro, "nossas instituições devem ser
honradas por aqueles aos quais incumbe guardá-las".
A mobilização ganhou força na semana passada, após
o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, ter
atacado parlamentares, acusando-os de fazer “chantagem”. Na ocasião,
Heleno falava sobre a pressão do Congresso para derrubar os vetos do presidente
ao orçamento impositivo e controlar parte dos recursos de 2020. O ministro
ainda orientou o presidente a “convocar o povo às ruas”.
Embora não haja referência ao Congresso ou ao STF
no vídeo, a peça deixa explícita a chamada para os atos do dia 15 que têm sido
convocados também como protesto contra as duas instituições.
São exibidas imagens de protestos em Brasília na
época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Com o Hino Nacional
ao fundo, um narrador pergunta logo no início: “Por que esperar pelo futuro se
não tomarmos de volta o nosso Brasil?”. Procurada, a Secretaria de Comunicação
da Presidência informou que não vai se manifestar.
A narração segue com imagens da posse de Bolsonaro,
do momento da facada, durante a campanha eleitoral, em Juiz de Fora (MG), e de
suas passagens pelo hospital. “Basta”, diz o narrador em outro trecho. “O
Brasil só pode contar com você. O que você pode fazer pelo Brasil? O poder
emana do povo. Vamos resgatar o nosso poder. Vamos resgatar o Brasil.”
Embora não haja referência ao Congresso ou ao STF
no vídeo, a peça deixa explícita a chamada para os atos do dia 15 que têm sido
convocados também como protesto contra as duas instituições. “Dia 15 de março
mostre que você é patriota”, conclui o vídeo.
Confira a nota de Celso de Mello na íntegra:
"Essa gravíssima conclamação, se realmente
confirmada, revela a face sombria de um presidente da República que desconhece
o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação
de poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do
altíssimo cargo que exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais
poderes da República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável
degradação do princípio democrático!!! O presidente da República, qualquer que
ele seja, embora possa muito, não pode tudo, pois lhe é vedado, sob pena de
incidir em crime de responsabilidade, transgredir a supremacia
político-jurídica da constituição e das leis da República!"
EM TEMPO: Imagino que quando criança o presidente Bolsonaro era muito mimado, por isso não aceita a existência da oposição e consequentemente da contestação. Além, é claro, da índole fascista que carrega em sua memória. Mas, o que evidencia tamanho desespero é quanto a incapacidade do governo Bolsonaro/Paulo Guedes em resolver a crise do Sistema Econômico Capitalista Brasileiro.
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