Manifestante protesta contra
Donald Trump durante invasão à embaixada dos EUA em Bagdá, pouco antes dos
ataques ordenados pelo presidente americano. Khalid al-Mousily/Reuters
Os EUA começaram 2020 em contagem
regressiva para as eleições presidenciais.
Candidato à reeleição, Donald Trump
enfrenta a mais grave crise institucional de seu governo desde a posse.
Vinte e cinco dias atrás, os deputados
de seu país aprovaram o impeachment do republicano. Flagrado orientando
autoridades ucranianas a investigarem um adversário político, ele é acusado de
abuso de poder e obstrução no Congresso, e segue no cargo enquanto aguarda
julgamento no Senado, onde tem maioria e provavelmente vai escapar da degola.
Em julho, 53% dos americanos
reprovavam sua gestão, contra 44% que o aprovavam, segundo uma pesquisa
divulgada pelo “Washington Post”.
No meio do redemoinho, Trump decidiu
criar sua própria guerra do Iraque, país onde George W. Bush pavimentou o
caminho da reeleição com sua guerra ao terror após o 11 de Setembro - e onde
atolou e saiu desmoralizado quando já estava claro que o pretexto das armas
químicas era conversa furada.
Trump dobrou a aposta num momento em
que prometia atender ao pleito da maioria dos eleitores de tirar os EUA do
conflito. A contradição pode ser um erro político fatal.
Numa tacada só, ele mirou um
aeroporto de Bagdá e acertou três fios desencapados do Oriente Médio. Na ação,
morreu o chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds do Irã, Qasem Soleimani,
um dos homens mais importantes daquele país. Analistas dizem que o peso
simbólico do assassinato será ainda maior do que o de Osama Bin Laden.
Soleimani é considerado pelo Irã um
herói de guerra por seu papel no combate ao Estado Islâmico e a Al Qaeda.
Há relatos também de que o comandante
de uma milícia do Iraque apoiada pelo Irã e o número 2 na hierarquia do
Hezbollah, no Líbano, estariam entre as vítimas.
O ataque acontece após milicianos
xiitas e simpatizantes invadirem a embaixada dos EUA em Bagdá depois de uma
série de “ataques defensivos” no Iraque e na Síria contra o grupo de milícias
Kataib Hezbollah.
Pelo Twitter, Trump acusou o Irã de
orquestrar o ataque e prometeu: “eles serão completamente responsabilizados”.
Foram.
Trump produziu, assim, um mártir e
direcionou o ódio do país persa em direção aos EUA.
As consequências do ataque ao
aeroporto serão inevitáveis, sobretudo em razão das condições em que foi
realizado, de maneira remota e sem um conflito declarado, conforme alguns
especialistas manifestaram em suas redes ao longo da noite.
“Vingança” é a palavra mais amena
usada nas primeiras manifestações tanto do líder supremo do Irã, Ali Khamenei,
quanto pelo presidente do país, Hassan Rouhani. Khamenei declarou que “todos os
inimigos devem saber que a jihad de resistência continuará com uma motivação
dobrada, e uma vitória definitiva aguarda os combatentes na guerra santa”.
A resposta das autoridades iranianas
e iraquianas dão a entender que ninguém estará mais seguro com o presente de
ano novo de Donald Trump - inclusive os seus compatriotas que vivem no país e
que já receberam orientações de deixar o local, da forma como puderem,
imediatamente.
Por aqui, as consequências ainda são
incertas - provavelmente, a América do Sul voltará à última das prateleiras de
prioridades dos EUA, a quem o presidente Jair Bolsonaro demonstra fidelidade
canina.
Os efeitos podem ser notados nas
oscilações da Bolsa, na alta do petróleo e na provável suspensão de movimentos
de investidores na região.
Para fevereiro, por exemplo, o
governo de São Paulo prepara uma viagem com executivos para Dubai, nos Emirados
Árabes. Setenta empresários demonstraram interesse em acompanhar a comitiva do
governador João Doria (PSDB), entre eles alguns dos maiores bancos do
país.
É provável que a empolgação com os negócios das
arábias seja substituída, nos próximos dias, pelo medo da escalada de um
conflito de contornos globais. Quem ganha com isso?
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