sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Acuado pelo impeachment, Trump puxa o gatilho e empurra EUA para a guerra


Manifestante protesta contra Donald Trump durante invasão à embaixada dos EUA em Bagdá, pouco antes dos ataques ordenados pelo presidente americano. Khalid al-Mousily/Reuters

Os EUA começaram 2020 em contagem regressiva para as eleições presidenciais.
Candidato à reeleição, Donald Trump enfrenta a mais grave crise institucional de seu governo desde a posse. 
         
Vinte e cinco dias atrás, os deputados de seu país aprovaram o impeachment do republicano. Flagrado orientando autoridades ucranianas a investigarem um adversário político, ele é acusado de abuso de poder e obstrução no Congresso, e segue no cargo enquanto aguarda julgamento no Senado, onde tem maioria e provavelmente vai escapar da degola.
Em julho, 53% dos americanos reprovavam sua gestão, contra 44% que o aprovavam, segundo uma pesquisa divulgada pelo “Washington Post”.
No meio do redemoinho, Trump decidiu criar sua própria guerra do Iraque, país onde George W. Bush pavimentou o caminho da reeleição com sua guerra ao terror após o 11 de Setembro - e onde atolou e saiu desmoralizado quando já estava claro que o pretexto das armas químicas era conversa furada.
Trump dobrou a aposta num momento em que prometia atender ao pleito da maioria dos eleitores de tirar os EUA do conflito. A contradição pode ser um erro político fatal.
Numa tacada só, ele mirou um aeroporto de Bagdá e acertou três fios desencapados do Oriente Médio. Na ação, morreu o chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds do Irã, Qasem Soleimani, um dos homens mais importantes daquele país. Analistas dizem que o peso simbólico do assassinato será ainda maior do que o de Osama Bin Laden.
Soleimani é considerado pelo Irã um herói de guerra por seu papel no combate ao Estado Islâmico e a Al Qaeda.
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Há relatos também de que o comandante de uma milícia do Iraque apoiada pelo Irã e o número 2 na hierarquia do Hezbollah, no Líbano, estariam entre as vítimas. 
O ataque acontece após milicianos xiitas e simpatizantes invadirem a embaixada dos EUA em Bagdá depois de uma série de “ataques defensivos” no Iraque e na Síria contra o grupo de milícias Kataib Hezbollah.
Pelo Twitter, Trump acusou o Irã de orquestrar o ataque e prometeu: “eles serão completamente responsabilizados”.
Foram.
Trump produziu, assim, um mártir e direcionou o ódio do país persa em direção aos EUA.
As consequências do ataque ao aeroporto serão inevitáveis, sobretudo em razão das condições em que foi realizado, de maneira remota e sem um conflito declarado, conforme alguns especialistas manifestaram em suas redes ao longo da noite.
“Vingança” é a palavra mais amena usada nas primeiras manifestações tanto do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, quanto pelo presidente do país, Hassan Rouhani. Khamenei declarou que “todos os inimigos devem saber que a jihad de resistência continuará com uma motivação dobrada, e uma vitória definitiva aguarda os combatentes na guerra santa”.
A resposta das autoridades iranianas e iraquianas dão a entender que ninguém estará mais seguro com o presente de ano novo de Donald Trump - inclusive os seus compatriotas que vivem no país e que já receberam orientações de deixar o local, da forma como puderem, imediatamente.
Por aqui, as consequências ainda são incertas - provavelmente, a América do Sul voltará à última das prateleiras de prioridades dos EUA, a quem o presidente Jair Bolsonaro demonstra fidelidade canina.
Os efeitos podem ser notados nas oscilações da Bolsa, na alta do petróleo e na provável suspensão de movimentos de investidores na região.
Para fevereiro, por exemplo, o governo de São Paulo prepara uma viagem com executivos para Dubai, nos Emirados Árabes. Setenta empresários demonstraram interesse em acompanhar a comitiva do governador João Doria (PSDB), entre eles alguns dos maiores bancos do país. 
É provável que a empolgação com os negócios das arábias seja substituída, nos próximos dias, pelo medo da escalada de um conflito de contornos globais. Quem ganha com isso?


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