ISTO É - Vicente Vilardaga
© Tom Brenner RETALIAÇÃO Ao mesmo tempo em que pressiona o
Brasil com sobretaxas e traições, Trump consegue vantagens comerciais.
O Brasil afaga os
Estados Unidos, mas só recebe punhaladas em troca. Enquanto o presidente Jair
Bolsonaro faz declarações de fidelidade e de alinhamento de interesses com os
americanos, o presidente Donald Trump reage com desprezo e retaliações
comerciais. Sua última demonstração de que considera o Brasil um parceiro de
negócios secundário e submisso veio de um tuíte publicado na segunda-feira 2,
quando declarou que irá estabelecer sobretaxas de 25% para o aço e de 10% para
o alumínio produzidos em países latino-americanos.
Trump alegou que a
medida, totalmente arbitrária, se deve à desvalorização do real e do peso.
“Brasil e Argentina desvalorizaram fortemente suas moedas, o que não é bom para
nossos agricultores”, justificou ele. “Por isso, com vigência imediata,
restabelecerei as tarifas de todo aço e alumínio enviados aos Estados Unidos
por esses países”. Embora ainda não tenha sido oficializado, o anúncio causou
enorme perturbação no mercado. “O malefício está feito e todas as negociações
estão paralisadas”, disse o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo
Lopes. “A sobretaxa de 25% inviabiliza nossas exportações”.
Vantagem comercial
O que Trump faz é
atacar despropositadamente o Brasil com a falta de reciprocidade na relação
entre os dois países. Ao mesmo tempo em que pressiona a indústria brasileira
com sobretaxas e pequenas traições, Trump consegue vantagens comerciais. Em
novembro, o Brasil aceitou estabelecer, por exemplo, uma cota livre de tarifa
de importação de 750 mil toneladas de trigo americano.
Também aumentou de
600 milhões para 750 milhões de litros a cota de importação anual de etanol dos
Estados Unidos sem tarifa. Para completar, o Brasil aceitou abrir mão do
direito a um tratamento diferenciado na Organização Mundial do Comércio (OMC)
para entrar, com o apoio americano, na Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países mais ricos do mundo. O
governo Trump, porém, frustrou as expectativas brasileiras e vai dar
preferência para Argentina e Romênia na OCDE.
A idolatria de
Bolsonaro por Trump não tem trazido qualquer resultado prático positivo e se
mostra inútil em vários aspectos. Depois do anúncio da sobretaxa, Bolsonaro
precisou dizer que a desvalorização do real não é proposital, algo que o
próprio Trump deve saber. “Não é um exagero. O mundo está globalizado, a
própria briga comercial entre Estados Unidos e China influencia o preço do
dólar aqui. Nós não estamos aumentando artificialmente o preço do dólar”,
declarou. “Estou conversando. Pode ver, nós importamos etanol deles. Eles querem, já está bastante avançado, mandar trigo para a gente. Agora, nós somos
os pobres da história. Não sei quantas vezes a economia deles é maior do que a
nossa. A gente está com chumbinho, eles estão com .50. Acho um certo exagero no
que está acontecendo”. Exagero ou não, o fato é que o prejuízo está ficando na
conta do Brasil.
Como acontece com o
aço, a sobretaxa também causará grandes problemas para os exportadores de
alumínio. Segundo o presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal),
Milton Rego, Trump cometeu um equívoco ao pretender penalizar o alumínio, já
que o produto foi sobretaxado pelos Estados Unidos em 10% no ano passado. Entre
janeiro e outubro deste ano o Brasil exportou um total de 119,5 mil toneladas
de produtos manufaturados de alumínio e os Estados Unidos foram o destino de
43% dessas vendas, comprando o equivalente a 52 mil toneladas.
O metal exportado
pelo Brasil representa 3% do consumo do produto no mercado americano. “Mesmo
que a sobretaxa não entre em vigor já aumentou a dificuldade nas negociações
entre importadores e exportadores”, disse Rego. “Os Estados Unidos são o
principal mercado importador do Brasil e, diante da fala de Trump, o comprador
do nosso alumínio fica incomodado e adia negócios”.
Para os produtores de aço,
o mercado americano também é fundamental. Os Estados Unidos compram 42% do aço
brasileiro exportado, o que garante uma receita de US$ 2,6 bilhões. É um
dinheiro que vai desaparecer se Trump levar sua ideia protecionista adiante.
Pelo jeito, se for depender da boa vontade americana, Bolsonaro vai ficar
falando sozinho.
EM TEMPO: É uma vergonha para o Brasil ter um Presidente deslumbrado e submisso ao Presidente dos EUA.
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