Comissão Política Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
A radicalização do
neoliberalismo em escala internacional é a resposta encontrada pela burguesia
para sair da crise colocando todo o ônus na conta dos trabalhadores. Tal
cenário resulta da combinação de pelo menos dois elementos centrais. Os
capitalistas não podem e, aparentemente, não precisam oferecer nenhuma
alternativa à humanidade. Não podem porque o processo de acumulação de capital
é cada vez mais irracional, predatório e antagônico às necessidades humanas;
não precisam porque, desde a década de 1990, com a desagregação da União
Soviética, o socialismo não representa, por ora, uma ameaça imediata à ordem
estabelecida.
Entretanto, a classe
trabalhadora nunca deixou de reagir às agressões capitalistas. Ainda nos anos
1990, a América Latina se tornou um caldeirão de lutas contra o neoliberalismo,
alterando a correlação de forças na luta de classes e abrindo espaço para a
ascensão de governos reformistas e progressistas na região.
Apesar do caráter
heterogêneo deste movimento, é possível afirmar que, no geral, estes governos
não levaram adiante um programa efetivamente anticapitalista. Ao contrário, com
mais ou menos autonomia política, assumiram uma tarefa impossível: administrar
o capitalismo, ao mesmo tempo em que promoviam algumas reformas e políticas sociais
compensatórias.
A crise aprofundada a
partir de 2008 reduziu radicalmente as margens de manobra dos governos
progressistas, causando profundo desgaste para um amplo campo político assim
chamado de esquerda. Como já ocorrera em diversos períodos históricos, a crise
do capital foi percebida pela maior parte da sociedade como uma crise dos
governos de plantão, desmoralizando o setor político que se propôs a promover
determinadas mudanças sociais e políticas em favor da maioria da população, mas
tentando gerir a ordem burguesa em vez de denunciar e enfrentar suas
contradições fundamentais.
Nesse contexto,
associado ao prolongamento da crise econômica global e ao aprofundamento das
desigualdades sociais, os capitalistas passaram a operar uma verdadeira reconfiguração
do Estado. A institucionalidade burguesa assume, cada vez mais, feições
despóticas, recrudescendo o viés repressivo, exacerbando a simbiose com grupos
paramilitares, esmagando direitos históricos dos trabalhadores e abolindo
liberdades democráticas.
O bolsonarismo é a
expressão deste processo no Brasil, atuando como vanguarda da extrema direita
na América Latina. Mais do que um simples fenômeno político passageiro, a
“Aliança Pelo Brasil” veio para ficar e, independentemente do resultado das eleições
de 2020, este grupo político continuará funcionando como cão de guarda do
neoliberalismo senil, pronto para atender ao chamado de seus patrões burgueses.
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Reagindo ao
acirramento da luta de classes na América Latina, especialmente os grandes
protestos populares no Chile, Bolsonaro enviou ao parlamento um projeto de lei
que garante o excludente de ilicitude a militares e agentes de segurança em
operações de “Garantia da Lei e da Ordem”. Ou seja, ciente de que cedo ou tarde
os trabalhadores brasileiros podem reagir às suas políticas antipovo, o governo
se prepara para reprimir sem freios as massas revoltosas.
Não há mais brechas
para a conciliação de classes na América Latina, em especial no Brasil. Isto é,
quaisquer setores reformistas e progressistas que eventualmente voltem a
dirigir o país sem romper com o status quo, estarão mais submetidos do que
nunca aos interesses capitalistas e tenderão a realizar governos ainda mais
rebaixados que as experiências regionais do início dos anos 2000.
Grande parte dos
setores organizados da classe trabalhadora no Brasil capitulou à tese da
suposta inevitabilidade do capitalismo. Isso é uma das principais razões pelas
quais predomina no país uma esquerda comprometida com a ordem institucional
burguesa, enquanto é o bolsonarismo que busca subvertê-la, pela extrema
direita.
É sintomático que a
contrareforma da previdência tenha sido aprovada sem nenhuma resistência e que
nos últimos meses as ruas tenham estado cada vez mais vazias. A qualquer sinal
de ameaça à ordem vigente, o “campo democrático-popular” ajuda a esvaziar a
luta direta e canalizar todas as energias para as próximas eleições, no afã de
voltar a gerir o Estado burguês.
É urgente a
reorganização da classe trabalhadora, numa perspectiva de superação da ordem capitalista.
A frente social anticapitalista necessária para derrotar a extrema direita e
reverter a atual correlação de forças não pode se restringir a meras coligações
entre siglas partidárias. Devemos divulgar e trabalhar nas bases a urgência de
se organizar a resistência proletária, popular e da juventude, propondo três
eixos prioritários de luta: a defesa dos direitos sociais e trabalhistas, a
defesa das liberdades democráticas e o combate às privatizações, ponto de
partida para a necessária contraofensiva no rumo do poder popular e do
socialismo.
Para o PCB, não é
possível esperar até 2022 para defender os direitos populares e enfrentar as
contrareformas em curso. É necessário desde já realizar grandes mobilizações
de massa para barrar a ofensiva neoliberal de Bolsonaro e Guedes. Essa deve ser
a prioridade absoluta de qualquer organização política que se pretende
comprometida com a classe trabalhadora.
Nesse sentido, é
fundamental fortalecer nacionalmente e nos estados o Fórum Sindical, Popular e
de Juventude pelos Direitos e Liberdades e Democráticas, construindo o seu
seminário nacional nos dias 14 e 15 de dezembro, unificando as lutas, rumo ao
Encontro Nacional da Classe Trabalhadora.
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