THAIS ARBEX, Folhapress
BRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS) - O ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal
Federal), defendeu, nesta quinta-feira (12), o fim da prisão de condenados em
segunda instância em resposta ao ministro Sergio Moro (Justiça). Em entrevista
ao jornal Folha de S.Paulo, Moro disse que a decisão da corte aumentou a
percepção dos brasileiros de que o governo não atua como deve no combate à
corrupção.
"Quem tem o
mínimo de conhecimento técnico e que ame a lei das leis, a Constituição, não
pode ter dúvidas", disse o magistrado, em referência ao entendimento,
referendado pelo plenário da corte, de que uma pessoa só pode começar a
cumprir pena após o trânsito em julgado do processo (quando não cabem mais
recursos, e a ação é finalizada).
Para Marco
Aurélio, relator das ações sobre o tema, é compreensível que "o leigo
tenha outra percepção". "Ele está indignado, quer correção de rumos e
não observa as leis, mas o técnico tem de ter um olhar fidedigno sobre a
Constituição."
Pesquisa Datafolha
mostrou que, para 50% da população, a gestão do governo Jair Bolsonaro é ruim
ou péssima nesta área, ante 44% em agosto. Moro chegou ao governo, após atuar
como juiz da Lava Jato em Curitiba, com a promessa de intensificar o combate a
desvios.
"O que
aconteceu nesse período para que essa percepção piorasse foi a revogação do
precedente da segunda instância. Isso implicou a soltura de pessoas que estavam
condenadas, inclusive por corrupção. Então, as pessoas às vezes têm uma
percepção geral e atribuem ao governo", disse Moro, que é favorável à
prisão em segunda instância.
O início do
cumprimento da pena logo após o julgamento em segundo grau é uma das bandeiras
da operação.
Segundo Marco
Aurélio, o julgamento do Supremo deveria ter tido um placar de 11 votos a 0. No
dia 7 de novembro, o plenário da corte decidiu, com placar apertado de 6 votos
a 5, que um condenado só pode ser preso após o trânsito em julgado -o fim dos
recursos-, alterando a jurisprudência que desde 2016 tem permitido a prisão
após condenação em segunda instância.
O voto decisivo
foi do presidente do Supremo, Dias Toffoli, que acompanhou os ministros Marco
Aurélio, relator das ações sobre o tema, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski,
Gilmar Mendes e Celso de Mello, formando a maioria.
Um dos
beneficiados pela decisão do STF foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), solto em 8 de novembro, após 580 dias de prisão.
Lula foi condenado
por Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de
Guarujá (SP). Ele nega as acusações e diz que Moro é parcial.
A
decisão do então juiz da Lava Jato, no entanto, já foi confirmada no TRF-4
(Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre, e pelo STJ (Superior
Tribunal de Justiça).
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