Protesto reuniu milhares de pessoas em São Paulo. Foto: Giorgia Cavicchioli/Yahoo |
Por volta das 18h desta sexta-feira
(23) já era possível ouvir vozes de milhares de pessoas ecoando gritos a favor
da Amazônia no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na avenida
Paulista. “Fora Bolsonaro, fora Salles”, “Queima o Bolsonaro” e alguns
xingamentos voltados ao presidente eram ouvidos o tempo todo. Porém, um grito
unia todos os presentes: “Bolsonaro cai. Amazônia fica”.
Era possível ver uma São Paulo que
antes era polarizada entre esquerda e direita, mas que agora parecia se unir em
prol de algo muito maior do que ideologias políticas. Há tempos não víamos
tantas pessoas diferentes em um mesmo protesto. Idosos, crianças, famílias com
bebês, cachorros, jovens, ativistas… para onde se olhava, era possível ver que
o grupo era totalmente heterogêneo.
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Crianças com
bichinhos de pelúcia e cartazes pediam pela preservação da Amazônia. Foto:
Giorgia Cavicchioli/Yahoo
Esse foi um dos fatores que saltou
aos olhos do ativista vegano Yoichi Takase, 44 anos. De acordo com o
manifestante, as queimadas que estão acontecendo na Amazônia durante essa
semana vão prejudicar todos os brasileiros. “As pessoas têm que acordar e isso
independe de direita e esquerda. Não tem mais essa polarização. Existiu, ainda
existe. Mas essa é uma necessidade. O bicho vai pegar pra todo mundo”, afirmou
à reportagem.
As amigas Julia Cintra e Carolina
Gomes, ambas de 17 anos e estudantes, pensam que não dá mais para esperar para
começar a agir. “A Amazônia é um patrimônio do mundo. Sobrou muito pouca coisa
por conta do desmatamento e da agropecuária”, afirmou Julia. “É importante
preservar o que sobrou. Nunca vamos conseguir recuperar o que foi. Mas dá pra
tentar acabar com isso o mais rápido possível”, continuou Carolina.
Essa angústia por rápidos resultados
era visível até para a saída do ato do vão livre do MASP para a via da Avenida Paulista.
Por volta das 18h30 já era possível ouvir pessoas pedindo para que a
manifestação saísse em passeata. Alguns decidiram sair antes por conta própria
e caminharam em pequenos grupos em direção à rua da Consolação. Os menos
ansiosos continuaram a esperar e a gritar.
Bolsonaro foi alvo de protesto. Foto: Giorgia Cavicchioli/Yahoo |
Durante essa espera para a saída da
passeata, um jovem que passava de bicicleta pela região foi detido pela GCM
(Guarda Civil Metropolitana). De acordo com testemunhas, ele passou pelo local
onde as viaturas estavam paradas e criticou o governo em voz alta. Em seguida,
um dos guardas teria puxado ele pelo casaco e dito que ele estava detido.
Outras pessoas afirmaram que o cabelo
rastafari do jovem teria esbarrado no rosto de um dos guardas enquanto ele
passava pelo local, o que o agente teria interpretado como uma provocação.
Quando o jovem já estava algemado e dentro da viatura, a reportagem perguntou
aos guardas qual era a acusação. Nenhum deles soube responder.
O jovem, no entanto, fez questão de
responder dizendo que ele não tinha feito nada. Chorando, ele foi levado para o
78 DP (Distrito Policial) e liberado por volta das 21h30. Ele irá responder por
desacato.
Pouco tempo depois da detenção do
jovem, a manifestação saiu em caminhada sentido Consolação. Por volta das
19h30, os manifestantes seguiram pela rua Augusta. Com seus cartazes, faixas e
bandeiras, o pedido era um só: para que nossos recursos naturais fossem
preservados e que o presidente e o ministro do Meio Ambiente deixassem seus
cargos.
Durante o percurso, o ato pegou
alguns motoristas de surpresa, o que gerou a indignação de alguns deles. Um
deles chegou a mostrar um envelope de exames para um dos manifestantes, dizendo
que precisava passar. Sem sucesso. Precisou esperar que o ato passasse. Outros
motoristas buzinaram em sinal de revolta e pressa. Porém, foi preciso que eles
investissem na paciência.
Então, a chuva chegou. Fina e
delicada, quase como lágrimas caídas do céu, ela molhou a todos. Os motoristas,
que estavam protegidos em seus carros, não sentiram, mas ela era gelada e
chegou a incomodar alguns manifestantes, que se protegeram com cachecóis e
casacos. Mesmo assim, ninguém saiu das ruas.
O ato seguiu até a alameda Tietê e
acabou por volta das 21h em frente ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Por meio de um jogral, os
manifestantes alertaram para os problemas ambientais causados pelas queimadas e
afirmaram que outro protesto irá acontecer no dia 5 de setembro.
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