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ESTADÃO - Breno Pires e Adriana Fernandes
BRASÍLIA - Os auditores fiscais que ocupam as mais
altas posições de chefia da Receita Federal ameaçam entregar os cargos caso sejam
efetivadas indicações políticas na superinten-dência do Rio de Janeiro e em
outros postos chaves do órgão.
Os seis
subsecretários do órgão estão fechados nessa posição, segundo apurou o Estado.
O efeito da entrega de cargos poderá ser em cascata, com outros chefes da alta
administração da Receita. O órgão se encontra
em crise, pressionado pelo Executivo, Legislativo e Judiciário para mudanças em sua estrutura e na forma de
atuação.
A situação se
agravou com os relatos nos bastidores do órgão de que o secretário especial da
Receita, Marcos Cintra, pediu ao
superintendente da PF no Rio de Janeiro, Mário Dehon, a troca de delegados
chefes de duas unidades no Estado – a Delegacia da Alfândega da Receita Federal
no Porto de Itaguaí e da Delegacia da Receita Federal no Rio de Janeiro II, na
Barra da Tijuca. O pedido teria
partido de familiares do presidente Jair Bolsonaro.
A Delegacia da
Alfândega da Receita Federal no Porto de Itaguaí é estratégica no combate a
ilícitos praticados por milícias e pelo narcotráfico em operações no porto, que
incluem contrabandeado, pirataria e subvaloração de produtos.
Dehon, que está com
o cargo ameaçado, recusou indicar o nome que foi sugerido, por entender que não
preenchia os critérios técnicos para a indicação.
Procurado por meio
da assessoria de imprensa, Cintra não se manifestou sobre a informação de que
sugeriu troca de delegados na Receita. “Independentemente de quem tenha feito
ou qual seja o ‘pedido’, tentativas como essa de interferência política no
órgão são absolutamente intoleráveis, típicas de quem não sabe discernir a
relevância de um órgão de Estado como a Receita Federal”, afirmou o Sindicato
Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco), em
nota divulgada na noite desta sexta-feira, 16. O sindicato diz
também que “a possível exoneração de um superintendente por tal razão é algo
jamais visto”.
O secretário Marcos
Cintra, que vem sendo pressionado pelo Supremo, pelo ministério da Economia e
pela cúpula do Congresso, também é alvo da insatisfação dos auditores-fiscais. Os chefes da
Receita veem omissão de Cintra na defesa do órgão.
A nota do
Sindifisco critica também “omissão” do ministro da Economia, Paulo Guedes, e
afirma: “Não há nada mais grave para um país em déficit fiscal do que ter um
Governo que fomente crises no próprio órgão responsável pela fiscalização e
arrecadação de tributos”. Integrantes da equipe econômica veem na postura dos
auditores um movimento de luta por dentro do Fisco, em um momento em que está
em curso uma reestruturação interna.
O último
desdobramento no redesenho da Receita é a intenção, revelada pelo Estado, de
transformar o órgão em uma autarquia.
A categoria teme
que, na nova estrutura que vier a ser definida, a autonomia dos auditores fique
comprometida, se for decidido que investigações fiquem sujeitas ao chefe da
instituição, que é sempre apontado pelo presidente da República. O temor é que,
aí sim, a influência política poderia ser institucionalizada.
EM TEMPO: As besteiras ditas, diariamente, pelo presidente Bolsonaro, funcionam como uma "cortina de fumaça" para encobrir o remédio amargo de destruição da nação brasileira. O texto acima é um dos exemplos.
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