Jornal Nacional
A revista Veja, em parceria com o
site The Intercept, divulgou nesta sexta-feira (5) novos diálogos atribuídos ao
então juiz Sergio Moro e a procuradores. A revista afirma que as supostas
conversas no aplicativo Telegram mostram que Moro orientava de forma ilegal
ações da Lava Jato.
Veja afirma que foram analisadas
649.551 mensagens.
A Veja diz na seção Carta ao
Leitor que analisou dezenas de mensagens trocadas ao longo dos anos entre
membros da revista e os procuradores e que todas as comunicações seriam
verdadeiras, palavra por palavra.
A revista diz que numa conversa
de 28 de abril de 2016, Moro teria orientado os procuradores a tornar mais
robusta uma peça. O suposto diálogo se refere a Zwi Skornicki, representante o
estaleiro Keppel Fells, que tinha contrato com a Petrobras.
No suposto diálogo, o procurador
Deltan Dallagnol teria dito à procuradora Laura Tessler: “No caso do Zwi, Moro
disse que tem um depósito em favor do funcionário da Petrobras Eduardo Musa e,
se for por lapso que não foi incluído, ele disse que vai receber amanhã e dá
tempo. Só é bom avisar ele.
Laura teria respondido: “Ih, vou
ver”.
A revista afirma que, no dia
seguinte, o Ministério Público Federal incluiu um comprovante de depósito de
US$ 80 mil feito por Skornicki a Musa, e que Moro aceitou a denúncia minutos
depois do aditamento e que, na sua decisão, mencionou o documento que havia
pedido. Segundo a revista, isso demonstraria que ele claramente ajudou um dos
lados do processo a fortalecer sua posição.
Em outra suposta conversa de 2 de
fevereiro de 2016, Moro avisa a Dallagnol que a Odebrecht entrou com uma
petição sobre determinada questão e que abriria prazo de três dias para os
procuradores se manifestarem.
No dia 5, segundo a revista, o
procurador Dallagnol manda pelo aplicativo Telegram a manifestação do
Ministério Público quase pronta. A revista afirma que a situação é
completamente irregular porque Dallagnol teria enviado a Moro uma versão
inacabada do trabalho para que o juiz pudesse adiantar a sentença.
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A revista destaca outro suposto
diálogo em que o chefe da força-tarefa Deltan Dallagnol daria dicas a Moro
sobre argumentos para garantir uma prisão. O diálogo seria de 17 de dezembro de
2015, quando Moro teria informado ao procurador que precisava da manifestação
do Ministério Público Federal no pedido de revogação da prisão preventiva de
José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo de Lula.
Dallagnol teria respondido
sobre o prazo: “Até amanhã meio-dia”. E o procurador, segundo a revista, teria
acrescentado: “Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar
prender alguém”.
Em outro diálogo atribuído a Moro
e a Dallagnol, Moro teria perguntado sobre rumores de uma delação de Eduardo
Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, e teria dito: “Espero que não
procedam”. Dallagnol teria respondido que tudo não passa de rumores e que
sempre que Moro quisesse, colocaria o então juiz a par. Moro teria reiterado
ser contra a delação. Isso sem saber o conteúdo, segundo a revista.
A revista ressalva que a proposta
de delação atingia políticos com foro privilegiado e que a palavra final para
assinar o acordo com Cunha passaria para a Procuradoria-Geral da República e a
homologação ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin,
relator da Lava Jato. Segundo a revista, um dos procuradores teria dito que a
ideia era analisar a proposta em conjunto com os colegas para uma decisão de
aceitar ou rejeitar a delação.
Dois dias depois, o procurador
Ronaldo Queiroz teria dito que o material é fraco. A revista afirma que, no dia
seguinte, outro procurador, provavelmente Orlando Martello Júnior, teria
expressado o posicionamento de Curitiba, que a revista destaca ter sido o mesmo
de Moro: “Achamos que o acordo deve ser negado de imediato".
Na reportagem, a revista Veja
afirma que uma das obsessões de Sergio Moro seria manter os casos da Lava Jato
em Curitiba e que, nesse esforço, o então juiz teria mentido a um ministro do
Supremo ou, na hipótese mais benigna, ocultado dele uma prova importante.
A revista conta então que a
defesa do preso Flávio David Barra pediu ao ministro do STF Teori Zavascki a
suspensão do seu processo tocado pela 13ª Vara de Curitiba, alegando que Moro
não tinha competência para julgar o caso por haver indício de envolvimento de
parlamentares, entre eles o então senador Edison Lobão (MDB-MA). Segundo a
revista, Teori cobrou explicações a Moro, que disse não saber nada sobre o
envolvimento de parlamentares. Mesmo assim, afirma a revista, o ministro do STF
suspendeu em 2 de outubro as investigações, o que forçou o então juiz a remeter
o caso de Curitiba para Brasília três dias depois.
A revista diz que o comportamento
de Moro perante Teori Zavascki foi impróprio e baseia essa opinião num diálogo
registrado no Telegram 18 dias depois entre o procurador Athayde Ribeiro Costa
e a delegada Erika Marena, da Polícia Federal. No suposto diálogo, eles teriam
se referido a Moro pelo apelido de Russo e usado o termo eprocar como sinônimo
de protocolar o documento no sistema da Justiça, o e-Proc.
O diálogo seria o seguinte:
Athayde: Sabem dizer onde
localizo a planilha/agenda apreendida por Barra, que descreve pagamentos a
diversos políticos? Lembro que o Russo tinha pedido protocolo separado. Vamos
precisar para manter a prisão dele lá em cima.
Érica: O Russo tinha dito para
não ter pressa para eprocar isso, daí coloquei na contracapa dos autos e acabei
esquecendo de eprocar. Vou fazer isso logo.
Em outro suposto diálogo
publicado por Veja, Dallagnol teria comentado com os colegas que conversou 45
minutos com o ministro do STF Luiz Edson Fachin e que teria exclamado: “Fachin
é nosso”.
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