Arte: André Zanardo |
Por Frederico Rocha Ferreira - Justificando
Decisões do
presidente, controles de pauta e respostas midiáticas demonstram o quanto o STF
está sujeito às vontades das Forças Armadas.
Em junho, o
Supremo Tribunal Federal negou novamente liberdade ao ex-presidente Lula. A
defesa pedia que fosse declarada a suspeição do então juiz Sérgio Moro,
com base nas mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil, que vem revelando
diálogos comprometedores do ex-juiz com o procurador Deltan Dallagnol, no
âmbito da Operação Lava-Jato, particularmente no caso Lula.
Mas, essa
decisão não é novidade. A estranha cumplicidade das instâncias superiores, em
particular do STF com as ações arbitrárias, ilegais e inconstitucionais da
Lava-Jato contra o ex-presidente sempre gerou perplexidade nos meios jurídicos.
No STF a única resistência era o ministro relator, Teori Zavascki, que morreria janeiro de 2017, na queda do avião que o levava a Paraty, no Rio de janeiro. As demais manifestações de ministros do STF,
ora reconhecendo as arbitrariedades, ora as ilegalidades cometidas pelo ex-juiz
Sérgio Moro, nunca passaram do campo teórico. [1]
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Em abril de
2018, o STF sob pressão social, se reuniu para julgar o habeas corpus que
poderia livrar Lula de ir para a prisão, mas, na véspera do julgamento, o
Comandante do Exército naquela ocasião, general Villas Bôas, veio a público e
disse em alto e bom som, “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio
de todos os cidadãos de bem, de repúdio à impunidade e de respeito à
Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas
missões institucionais”.
Recado
recebido, recado obedecido. O habeas corpus foi negado com o voto de minerva da
ministra Rosa Weber, que disse estar votando de forma diferente de sua convicção pessoal, ou seja, um voto
confessadamente covarde.
Nesse
momento a sociedade percebeu que a cumplicidade da última instância da Justiça
brasileira com as ações arbitrárias e ilegais da Operação Lava-Jato, se dava em
grande medida, sob pressão velada, como ficou patente com o recado do
Comandante do Exército.
Posteriormente,
o general Villas Bôas confessou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, que
de fato, pretendia “intervir” caso o Supremo Tribunal Federal concedesse Habeas Corpus ao
ex-presidente Lula.
As poucas
decisões monocráticas visando tirar o ex-presidente da prisão foram rápida
e devidamente cassadas, como a do desembargador Rogério Favreto do TRF-4, e a do ministro
Marco Aurélio do STF, cassada pelo presidente Dias Toffoli, tido como íntimo do
ex-presidente.
Depois do
episódio do general Villas Bôas, ficou patente que o Supremo Tribunal
brasileiro não tinha mais autonomia para fazer cumprir a Constituição no caso
Lula. Além de intimidados oficialmente pelas Forças Armadas, os ministros do
STF se viram ameaçados individualmente, como o ministro Edson Fachin, que tornou pública a ameaça por ser extensiva à sua família e pediu proteção à Corte e à Polícia
Federal.
“se o Supremo Tribunal Federal deixar
o ex-presidente Lula, solto…”
Outras
ameaças eram e são públicas, como as do general da reserva Paulo
Chagas, que nunca foi punido pela corporação. Chagas é um defensor da
prisão do ex-presidente Lula e contrário a qualquer tipo de habeas corpus que
possa dar liberdade ao ex-presidente. As ameaças chegaram a tal ponto, que o
ministro Alexandre de Morais ordenou à polícia Federal o cumprimento de mandado
de busca e apreensão na casa do general.
Também o
general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ameaçou
sem meias palavras o STF em uma entrevista ao Estadão, afirmando que, “se o Supremo
Tribunal Federal deixar o ex-presidente Lula, solto, estará agindo como indutor
da violência entre os brasileiros, propagando a luta fratricida, em vez de
amenizá-la”
O próprio
general Mourão, hoje vice presidente da República, quando na ativa, fazia duras
ameaças contra os ministros do STF, ameaçando-os com intervenção militar, caso uma decisão do Tribunal, viesse beneficiar o ex-presidente,
preso em Curitiba.
Recentemente
o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse em uma
entrevista que sabia que os membros do STF tinham sido ameaçados de
morte, 16 corroborando a tese que estão todos amarrados à própria toga.
Em síntese,
parece não haver dúvida de que o Poder Judiciário no Brasil está refém das
Forças Armadas.
Frederico Rocha Ferreira é escritor,
especialista em reabilitação pelo Hospital Albert Einstein, membro da Oxford Philosophical
Society.
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