Entrevista com Heitor César, dirigente nacional do PCB, para o Programa
Faixa Livre
“Momento difícil para
se assumir democrata no Brasil” O avanço dos discursos absolutistas no país
provoca o temor não só daqueles que defendem pautas relacionadas ao socialismo,
como prejudica até mesmo o debate sobre o real sentido da democracia na
sociedade atual.
Exemplo desse
recrudescimento é o Partido Comunista Brasileiro. Legenda mais antiga do país
ainda em atividade, o PCB completou 97 anos no último dia 25 de março e vive às
voltas com a intolerância e a violência retórica e, em alguns casos, física de
grupos neofascistas que ganharam voz com a eleição de Jair Bolsonaro.
“Vivemos tempos
difíceis para nos assumirmos enquanto comunistas e eu diria, inclusive, como
democratas porque este é o pior momento desde a redemocratização, onde o
obscurantismo e o medo tentam impor suas pautas novamente tentando pegar carona
em uma velha tática das elites brasileiras, que utilizaram o anticomunismo como
arma”, avaliou o historiador Heitor Cesar Oliveira, dirigente do partido.
O argumento ganha
contornos de realidade em episódios como o vídeo divulgado pelo Palácio do
Planalto em grupos de Whatsapp negando que um golpe de estado tenha instaurado
no Brasil a ditadura militar, que completou 55 anos. A Secretaria de Imprensa
da Presidência confirmou o envio do material a jornalistas, mas não soube dizer
quem o produziu e tampouco quem o teria distribuído.
Além do caráter
histórico, o PCB foi pioneiro em nacionalizar o debate político no Brasil,
antes restrito às fronteiras estaduais, tratando basicamente dos temas
relacionados a cada região do país.
“O PCB traz esse
elemento novo no quadro político brasileiro que era de ser um partido que
buscava pensar sua atuação em âmbito nacional. Na primeira República tínhamos
partidos com características regionalizadas, de Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais. O Congresso de fundação do partido, que se iniciou no Rio e
terminou em Niterói, reuniu trabalhadores de múltiplas funções como barbeiros,
vassoureiros, alfaiates, jornalistas”, lembrou Heitor.
“Eles buscavam
construir um partido que se espelhasse no sucesso da Revolução Russa, que pela
primeira vez colocou um governo a serviço dos trabalhadores, e também refletir
um pouco do desenvolvimento da luta de classes no próprio país. No final do
século XIX, início do século XX, tivemos uma ebulição de indústrias surgindo, o
que mudou o perfil da população urbana introduzindo essa classe operária
nascente como uma espécie de novos atores políticos e, através das greves e
1917, 1918, começaram a chegar à maturidade”, continuou.
A decadência da
experiência comunista no planeta, processo originado nos países do leste
europeu, se deve a transformações ocorridas nas nações que adotaram o
socialismo como doutrina, bem como por ameaças externas ao regime.
“O processo de crise
e queda, principalmente da União Soviética, se dá muito por um colapso interno
gerado por um conjunto de reformas naqueles países. Não que não fosse necessário,
mas a maneira como foi desencadeado o processo de reforma diante de alguns
problemas estruturais que tinham raízes históricas naqueles países
potencializou um conjunto de crises internas, isso sem levar em conta toda a
pressão internacional, toda tentativa de sufocar aquelas experiências, havia um
cerco mundial às experiências socialistas”, avaliou o historiador.
Ouça a entrevista de
Heitor Cesar Oliveira na íntegra:
https://soundcloud.com/programafaixalivre/fl-01-04-2019_2-heitor-cesar
http://www.programafaixalivre.com.br/noticias/heitor-cesar-momento-dificil-para-se-assumir-democrata-no-brasil/?fbclid=IwAR1QqA3o8SOSZMcqlnql7hc14OJYIz9yrA3biR_Y6mEEvt0TNL6grZdNEu4
Nenhum comentário:
Postar um comentário