quarta-feira, 3 de abril de 2019

97 anos de PCB: resistindo em tempos difíceis


Entrevista com Heitor César, dirigente nacional do PCB, para o Programa Faixa Livre

“Momento difícil para se assumir democrata no Brasil” O avanço dos discursos absolutistas no país provoca o temor não só daqueles que defendem pautas relacionadas ao socialismo, como prejudica até mesmo o debate sobre o real sentido da democracia na sociedade atual.
Exemplo desse recrudescimento é o Partido Comunista Brasileiro. Legenda mais antiga do país ainda em atividade, o PCB completou 97 anos no último dia 25 de março e vive às voltas com a intolerância e a violência retórica e, em alguns casos, física de grupos neofascistas que ganharam voz com a eleição de Jair Bolsonaro.
“Vivemos tempos difíceis para nos assumirmos enquanto comunistas e eu diria, inclusive, como democratas porque este é o pior momento desde a redemocratização, onde o obscurantismo e o medo tentam impor suas pautas novamente tentando pegar carona em uma velha tática das elites brasileiras, que utilizaram o anticomunismo como arma”, avaliou o historiador Heitor Cesar Oliveira, dirigente do partido.
O argumento ganha contornos de realidade em episódios como o vídeo divulgado pelo Palácio do Planalto em grupos de Whatsapp negando que um golpe de estado tenha instaurado no Brasil a ditadura militar, que completou 55 anos. A Secretaria de Imprensa da Presidência confirmou o envio do material a jornalistas, mas não soube dizer quem o produziu e tampouco quem o teria distribuído.
Além do caráter histórico, o PCB foi pioneiro em nacionalizar o debate político no Brasil, antes restrito às fronteiras estaduais, tratando basicamente dos temas relacionados a cada região do país.
“O PCB traz esse elemento novo no quadro político brasileiro que era de ser um partido que buscava pensar sua atuação em âmbito nacional. Na primeira República tínhamos partidos com características regionalizadas, de Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais. O Congresso de fundação do partido, que se iniciou no Rio e terminou em Niterói, reuniu trabalhadores de múltiplas funções como barbeiros, vassoureiros, alfaiates, jornalistas”, lembrou Heitor.
“Eles buscavam construir um partido que se espelhasse no sucesso da Revolução Russa, que pela primeira vez colocou um governo a serviço dos trabalhadores, e também refletir um pouco do desenvolvimento da luta de classes no próprio país. No final do século XIX, início do século XX, tivemos uma ebulição de indústrias surgindo, o que mudou o perfil da população urbana introduzindo essa classe operária nascente como uma espécie de novos atores políticos e, através das greves e 1917, 1918, começaram a chegar à maturidade”, continuou.
A decadência da experiência comunista no planeta, processo originado nos países do leste europeu, se deve a transformações ocorridas nas nações que adotaram o socialismo como doutrina, bem como por ameaças externas ao regime.
“O processo de crise e queda, principalmente da União Soviética, se dá muito por um colapso interno gerado por um conjunto de reformas naqueles países. Não que não fosse necessário, mas a maneira como foi desencadeado o processo de reforma diante de alguns problemas estruturais que tinham raízes históricas naqueles países potencializou um conjunto de crises internas, isso sem levar em conta toda a pressão internacional, toda tentativa de sufocar aquelas experiências, havia um cerco mundial às experiências socialistas”, avaliou o historiador.
Ouça a entrevista de Heitor Cesar Oliveira na íntegra: https://soundcloud.com/programafaixalivre/fl-01-04-2019_2-heitor-cesar
http://www.programafaixalivre.com.br/noticias/heitor-cesar-momento-dificil-para-se-assumir-democrata-no-brasil/?fbclid=IwAR1QqA3o8SOSZMcqlnql7hc14OJYIz9yrA3biR_Y6mEEvt0TNL6grZdNEu4

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