Para pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência, da USP, autoridades
violentas na forma de comunicar estimulam o aumento da violência no Brasil
Por Marcelo Menna
Barreto
Foto: Reprodução
Facebook
Em um primeiro
momento é difícil não tentar estabelecer um paralelo entre a tragédia ocorrida
nessa manhã na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP) com a realidade
análoga dos Estados Unidos, um país cujo histórico de chacinas em
estabelecimentos de ensino são datadas desde 1764, quando ainda era uma colônia
inglesa.
Guilherme Taucci
Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, invadiram a escola
da Região metropolitana de São Paulo e mataram cinco alunos e duas
funcionárias.
No entanto, para
Renan Theodoro de Oliveira, mestre em sociologia e pesquisador do Núcleo de
Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), “Isso acontece
lá há muito tempo. Há pelo menos 30 anos notícias sobre isso naquele país são
divulgadas aqui. A grande pergunta é por que isso começa a acontecer no
Brasil?”.
Oliveira, que no
momento de sua conversa com o Extra Classe estava no NEV monitorando o
acontecimento em Suzano, afirma ser impossível fazer uma análise “sob o arrepio
dos acontecimentos”, mas aponta três elementos para uma importante reflexão:
escola, suicídio e aceitação da violência para a resolução de conflitos.
A instituição escola,
na reflexão do pesquisador, tem nos últimos anos sido constantemente vítima dos
mais variados ataques que a torna um ambiente que pode virar explosivo. “A
escola é lugar de convivência. A Escola não combina com violência”, destaca.
Atos como as tentativas de descrédito de professores, bullyings, com certeza
para Oliveira são elementos fortes no quebra cabeças.
Já a questão
suicídio, na análise do integrante do NEV, apesar de também presente na maioria
dos casos americanos, aponta em seu entender a série de mudanças sociais que o
Brasil tem passado nos últimos anos, como falta de perspectivas para a
juventude e desemprego. Para ilustrar, Oliveira destaca dados oficiais do
Ministério da Saúde que registram “uma curva ascendente” de casos, entre os
anos de 2007 para 2018.
Hoje, no Brasil, o
suicídio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e, entre os
homens nesta faixa etária, é o terceiro motivo mais comum. Entre as mulheres, o
oitavo.
Encerrando sua
reflexão, não menos importante para Oliveira é que cada vez mais o Brasil passa
a ser um ambiente extremamente tolerante para o uso da violência para a
resolução de conflitos. “Passamos para uma certa aceitação social da violência
como forma de resolver os mais variados problemas”, destaca ao registrar que
isto vai da mais prosaica discussão em uma rede social até casos onde as ditas
vias de fato acabam se concretizando. “É a brutalidade sendo incorporada no
tecido social”, assevera.
Ao se referir aos
discursos políticos, Oliveira mostra especial preocupação quando diz ver
pessoas importantes para a República se manifestar de forma violenta. “Pessoas
violentas na sua forma de comunicação acabam jogando cada vez mais elementos
para o estimular o aumento da violência no Brasil” fala ao mesmo tempo que
pergunta: “Como em uma sociedade como essa pode se pensar em flexibilizar
acesso ao porte de armas?”.
Para o pesquisador,
os casos americanos até devem ser uma espécie de inspiração. “Existe uma certa
glamourização dessas tragédias nos Estados Unidos, mas eu não conseguiria
traçar um paralelo exato” aponta ao se referir que, se no país governado por
Trump, existem aspectos culturais que enraízam na população a ideia da
liberdade de posse e porte de armas, aqui no Brasil esse debate chega de forma
artificial. “O certo é que, em qualquer dos casos, quanto mais fácil a
circulação de armas, maiores são os perigos”, diz.
Publicado em 13 de março de 2019
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